Os picos cobertos de neve ao longe pareciam o auge daquela imensidão branca. O palácio a beira de duas montanhas era em parte feito de gelo, em parte de pedra. O chão de mármore, imitando uma superfície congelada e lisa, estava frio ao toque dos pés de Kallias, que caminhou até a varanda era que era como vidro, mas inteiramente feita de gelo.
Diante de sua visão, havia um enorme jardim de estátuas de gelo a leste, uma pista de patinação a oeste e, no centro, uma estrutura redonda e circular, cuja passarela seguia até os portões do saguão principal do castelo.
Bem à frente deles, portão de vidro de gelo, trabalhado em arabescos, envolvendo todo o jardim de entrada com muros brilhando à luz do sol, que refletia a grossa e impenetrável muralha congelada que os separava dos belos campos cobertos de neve.
Ele sentiu o vento gélido bater no rosto e respirou fundo. Atrás dele, ouviu passos suaves. Viviane acordara.
Segurando no batente da sacada, respirou fundo, quando sua parceira o abraçou por trás, ficando na ponta dos pés para apoiar o queixo em seu ombro e sussurrar em seu ouvido:
— Chegou o grande dia.
Kallias deu um meio sorriso e tirou as mãos dela da volta de seu corpo, girando-a para ele de modo que a fêmea teve tempo apenas de soltar uma risada de surpresa conforme ele a prendia entre ele o parapeito, dando-lhe um beijo suave na têmpora.
Viviane estava esplendorosamente linda naquela manhã. Seus cabelos brancos como a neve sacudiam com a brisa leve. Os olhos azuis como o gelo, pestanejaram ansiosos. E ele já podia imaginar o porquê. Riu apenas por imaginar o rosto dos demais Grão-Senhores.
— Não finja que não está amando isso — murmurou para a parceira.
Os lábios beijados por maçãs se abriram em um sorriso brilhante.
— Você me conhece tão bem.
Ele assentiu, puxando-a mais para si, aninhando seu calor ao dele. A única forma em que era fogo e não gelo. Quando estavam juntos.
— Que horas Helion disse que chegaria mesmo? — indagou, buscando se lembrar.
Viviane fez círculos curtos no ombro dele, levando ondas de energia por seu corpo.
— Dez horas da manhã. Ainda temos tempo — informou ela, com sua mente impecável.
Aquela fêmea era impecável por inteira, na verdade.
Sou mesmo, disse ela, pelo laço.
Especialista em se esgueirar pelo meu escudo mental sem que eu perceba, observou ele, puxando o ar. Viviane sempre tirava um pouco dele a cada vez que sorria daquele jeito.
Mas aquele esboço belo e frio saiu de seus lábios de repente. Ela apoiou as mãos nos ombros dele e o encarou por longos segundos. O avaliava, percebeu.
— Como está hoje, meu amor? — perguntou, preocupada.
Kallias se endireitou. Viviane não esqueceria o incidente do eclipse no dia anterior com facilidade.
— Estou bem, já lhe disse isso.
Ela ergueu uma das sobrancelhas claras como as nuvens do céu.
— Você apagou do nada, durante o Eclipse — lembrou ela, em tom de advertência. — Em nenhum lugar do mundo isso seria considerado normal. Talvez no lado dos estrangeiros que conheceremos hoje, mas, não costuma ser.
— A curandeira disse que não tem nada de errado comigo. Você mesmo a ouviu ontem — respondeu, complacente, na tentativa de acalmar a parceira. — Foi um efeito colateral do Eclipse. Provavelmente, nem tenha sido só comigo.
— Eu não conseguia te alcançar — puro desespero brilhou ali, em seus olhos. Aquilo fez o peito do macho se apertar. — Era como se fosse um fantasma, Kall.
Kall. Ele deu um leve sorriso à menção do apelido, que somente ela se utilizava.
— Seja como for, estou bem agora. E vamos descobrir mais na reunião de amanhã. No momento, precisamos nos preocupar em não deixar que ninguém se mate no jantar dançante de hoje à noite — observou ele.
Viviane deu de ombros.
— Não se preocupe — começou ela, segurando o queixo dele carinhosamente. — Nada passa pelos olhos de Viviane, Grã-Senhora da Corte Invernal. — O tom com que aquilo saiu foi orgulhoso e feliz.
Deixá-la feliz e realizada sempre fora a meta de Kallias, de todo modo. Por isso, logo depois da guerra contra Hybern, ele a fez sua Grã-Senhora. Mantiveram segredo pois ela queria que fosse uma grande revelação. Do modo sempre espalhafatoso e feliz que vivia a vida. Kallias respeitou isso e somente ele assinava as cartas da Corte até os dias atuais. Era quase como se Viviane soubesse desse momento perfeito para fazer a revelação. Era astuciosa, sua parceira. Sempre fora.
— Imagino que não veja a hora de contar a Feyre que ela não é mais a única — disse ele, acariciando a linha da coluna dela.
Viviane fez uma expressão doce e inocente.
— Adivinhou bem. Mas — ela olhou por cima do ombro, provavelmente para o relógio do outro lado do quarto — temos de nos apressar. Helion chegará não apenas com a comitiva dele, mas com dois membros da Corte estrangeira e com Mor — a animação ao dizer o nome da terceira no comando da Corte Noturna era claro.
Ela deu um beijo rápido nos lábios de Kallias e se desvencilhou de seus braços, passando por ele e o puxando pela parta de trás camisa branca que usava, para dentro da suíte.
O sol forte avisava: aquele seria um longo dia e ele traria diversas surpresas.
***
Bônus de hoje, corações de gelo (acho mais apropriado haha). Até segunda :P
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Corte de Fogo e Gelo
FanfictionE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...