Para mim

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Az puxou o ar, porque este subitamente havia se tornado rarefeito. Sentia-se como se estivesse pendendo à beira de um penhasco e, enterrado bem lá no fundo, estava o que seu coração não queria ver.

— Você está bem? — indagou Helion, levantando-se da cadeira.

O illyriano deu um passo para trás, depois mais outro. Havia um limiar ali, em meio a toda escuridão.

— Você fala de...— os dedos de Az se apertaram nas taças de vidro.

Helion inclinou a cabeça, estudando-o.

— Falo de você e Fenrys — reforçou ele, cuidadosamente. — Agora que sabem que são parceiros...

A voz do Grão-Senhor se tornou abafada. Um mero burburinho no fundo da consciência de Az, que não passava de uma lousa sendo apagada conforme frases de diversas ocasiões e lembranças pipocavam em seus olhos.

Você é meu, dissera Fenrys, enquanto o abraçava no quarto.

Ele me perturba, declarara a Rhys e Cass na ponte.

Eu nunca menti para meu parceiro, dissera Helion durante o jogo. Fenrys bebera. Achou que se tratava de outra pessoa. Não era possível que fosse ele...

Eu te perguntei se você já teve um parceiro e você não respondeu, falara para Fenrys.

...deve ser doloroso para você, murmurara Az na boate.

Sim...é doloroso, respondera Fenrys, entredentes.

Az deu mais um passo cambaleante. A força com que pressionava as taças fez com que se quebrassem em sua mão, em um barulho estridente. Vinho e sangue e vidro se derramaram no carpete.

Me senti atraído automaticamente...foram as palavras de Fenrys para ele durante a briga em seu primeiro encontro.

Eu quero você, Azriel. Talvez mais do que já quis algo na vida, ele também disse.

Mais uma vez, ele deu outro passo. Estava olhando fixamente para o chão quando um par de botas marrom entrou em seu campo de visão.

Estava ciente de que mais pessoas se dirigiam até a sala de jantar, para entender o que estava acontecendo. O peito de Az doeu pela falta de ar. Ergueu suas mãos trêmulas e viu cortes misturados a vinho.

— O que você fez com ele, desgraçado?! — perguntou a voz que Az já conhecia como a sua.

O zumbido em seus ouvidos se intensificou. Sua boa ficou seca conforme mais fragmentos de memórias o atingiam no rosto como tijolos.

No instante em que te vi, soube que deixaria uma marca em mim, mas quem está contando cicatrizes?

Marcas. Aquilo ecoou no vazio de confusão da sua mente. Ao fundo, a voz abafada de Helion disse:

— Eu não fiz nada! Achei que tinha contado para ele — a declaração parecia sincera.

— Eu vou matar você — rugiu Fenrys.

Az levantou os olhos e lembrou-se de quando disse: Ele é meu.

Eu amo você, a voz de Fenrys disse em sua cabeça. Seguido dos comandos de conforto que ouvira na mente no dia anterior. Estarei aqui quando você acordar.

Durma.

E Az dormira, induzido pela voz bela que o pedira com carinho. Não era sua mente pregando-lhe peças por desejar Fenrys. Era o próprio Fenrys falando em sua cabeça.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora