Capítulo 52- Marcado na pele

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Os corredores estavam vazios e frios a luz da madrugada. Com tudo que acontecia, ao inferno que Fenrys conseguiria ficar quieto dentro do quarto aguardando notícias. Após andar de um lado para o outro pelo cômodo, quase fazendo um buraco no chão, decidiu que iria dar uma volta.

Azriel se levantou imediatamente para acompanhá-lo.

— Não precisa, Az — murmurara ao parceiro.

Mas ele se antecipou até a porta e a abriu.

— Precisa — retrucara. — Não vou te deixar sozinho nem um segundo por esta noite.

Fenrys sorriu. O peito doeu por aquele amor incondicional que sentia por Az e que crescia a cada dia. Era estranho como parecia que se conheciam há anos e não há um mês. Era estranho o quão rápidas e intensas as coisas aconteceram. Mas Fenrys não se arrependia de nenhum segundo sequer. Ele levou a mão na nuca do parceiro e o beijou suavemente. Só um toque de lábios, para aquecer seu coração. Para o lembrar que mesmo que não seja Gavriel, ele conseguiria sim, vencer o luto pela perda do amigo mais uma vez. Para o lembrar que tinha Az. Seu Az. Tudo ficaria bem contanto que estivessem juntos.

Os dois caminharam de mãos dadas pelos corredores, quase como se Az temesse o soltar e antecipando que algo pudesse acontecer.

Saindo da ala oeste, encontraram um corredor diferente. Ao invés de parede à esquerda, havia uma sacada reta, feita de cristais de gelo. O lugar havia, porém, sido encantado para não deixar que o frio de fora entrasse, como se uma cortina de ar se estendesse. Não se conseguia ver nada direito com aquela nevasca, apenas os ventos nebulosos, o céu vermelho e tempestuoso, e escuridão. Fenrys podia apostar que o lugar proporcionava uma bela visão para a floresta em noites brandas.

Ele conduziu Az até a sacada e parou ali, olhando para noite que ainda estava longe de acabar. O parceiro passou o braço por seu ombro, puxando-o para perto e o beijando na têmpora.

— O que está incomodando você... — Az começou depois de uma pausa —...quer falar sobre isso?

Fenrys bufou. Nem mesmo ele era capaz de responder aquela pergunta.

Talvez não quisesse pensar realmente nas coisas que se passavam por sua cabeça.

Ele abriu a boca, ciente dos olhos avelã do parceiro fixos nele.

— Não sei bem o que eu deveria dizer — admitiu. — Muitas coisas me preocupam agora.

— Escolha a menos pior — sugeriu o parceiro, com leveza, os dedos fazendo carícias em seu ombro.

Fenrys pensou e pensou.

— As vezes eu fico pensando se Vaughan não tivesse me sequestrado — Az enrijeceu ao ouvir aquilo. A tristeza estampada nos olhos dele. — Eu poderia ter me tornado o deus sombrio. E nada...me tira da cabeça de que Vaughan possa ter se enganado e ele esteja alojado dentro de mim sem eu nem mesmo saber.

— Isso é loucura — disparou Az.

— Não, não é — continuou ele, virando-se para o parceiro. — Eu era o candidato perfeito, Az. Vaughan mesmo disse. O Livro da Criação confirma que a casca deveria ser um metamorfo. Eu pareço com ele até na aparência, merda. — Ele tocou nos cabelos. — Cabelos dourados. — Apontou para os olhos. — Olhos escuros como a noite.

— Seus olhos mudam de cor. Ficam castanhos as vezes — interrompeu Az, na tentativa de o fazer sorrir, de não pensar nisso.

Não adiantou muito.

Fenrys levou a mão ao peito.

— Se ele não estiver em Gavriel, pode estar em mim, Az — verbalizou o que o estava infernizando há dois dias. — E eu não sentiria, considerando que ele me deixaria inconsciente para usar meu corpo.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora