Capítulo 48- Morte e vida

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Lucien sentiu o corpo inteiro responder àquele tapa que sua mãe levou.

O ódio o inundou, tornando-se algo palpável, vítreo, poderoso.

Ao lado dele, Helion era a própria promessa da morte, os olhos âmbar brilhavam de maneira assustadora.

Sua pele começou a cintilar, em um dourado esbranquiçado, os cabelos remexendo-se de acordo com as ondas de seu poder.

Para o horror da raposa, e surpresa também, era como se sua magia atendesse àquele chamado. Olhando para os dorsos de sua mão, percebeu que brilhavam, chamas faiscando por entre os dedos de maneira descontrolável.

— Toque nela novamente e vai desejar não ter nascido — a frase tinha um peso diferente diante do Helion que estava ao seu lado.

Era diferente pois ele era como o sol. Maravilhoso e terrível, caso chegasse perto o suficiente para constatar isso. Beron endireitou-se. Seus irmãos não faziam nada...covardes. Eram um bando de covardes. Enquanto que a mãe segurava o rosto, vermelho pelo tapa, e Lucien teve a impressão que ela poderia matar Beron pelo próprio ódio visível em seus belos olhos avermelhados.

— O que vai fazer? Roubá-la de mim, Helion? — incitou Beron, com uma gargalhada cruel. — Isso te custaria uma guerra. Neroda não vale isso.

O queixo do pai biológico de Lucien se ergueu e a cabeça virou um pouco para o lado, como uma fera avaliando a presa.

— Neroda vale muito mais do que uma guerra — retrucou. Aquela calma letal. Lucien não queria ver quando fosse libertada.

— Você não tem direito sobre ela! — Beron rugiu.

Helion gargalhou.

— Tem medo de perder os poderes que roubou dela, Beron? É tão ridiculamente patético? — provocou, o brilho de sua pele se intensificava a cada fôlego.

O restante da sala estava quieta como a morte.

— Como ousa me insultar assim?! — vociferou o Grão-Senhor, segurando Neroda mais perto dele.

Por que ela não saía do aperto? Por que a mãe não reagia?

Lucien pressionou as unhas nas palmas, incapaz de tomar um fôlego descente. Mas ele deu um passo à frente, Beron percebeu o ato e desprezou:

— O que pensa que vai fazer, seu bastardo? — Os irmãos arregalaram os olhos para ele.

O tempo pareceu parar. Pois, sim, todos viam o que não tinha sido dito. Viam a pele de Lucien brilhar como a do Grão-Senhor da Corte Diurna, viam aquele poder atado as chamas de sua mãe, que dançavam em seus dedos. Viam, e enxergavam, pela primeira vez, porque o irmão sempre tinha sido diferente dos outros. E, agora, Beron tinha como provar que Lucien nunca tinha sido dele. As provas eram irrefutáveis, claras como a luz que ambos refletiam no momento.

— Vou acabar com a sua raça, para começar — respondeu ao pai adotivo, de maneira depreciativa.

Helion sorriu graciosamente, como se constatasse o entendimento nos olhos arregalados de todos eles. Inclusive os de Beron.

— Me ataque e poderei pedir sua cabeça a Corte Noturna, garoto — lembrou Beron.

Passos ecoaram atrás de Lucien. O cheiro de sua Grã-Senhora o alcançou antes de sua voz ecoar:

— E o pedido será negado — a voz de Feyre era fria. — Ele tem o direito de zelar pela vida da mãe, apesar de você demonstrar tamanho desprezo.

— Sua vadia! — Beron retrucou.

E aquilo foi o suficiente para o pandemônio. No instante seguinte, toda luz foi tomada do ambiente, exceto por Lucien e Helion. Caminhando devagar, com as mãos nos bolsos, Rhysand, o retrato da morte lenta e da escuridão, se colocou no campo de visão de Beron, passando por Feyre.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora