— Espero que tenham gostado do jantar — comentou o Grão-Senhor, sem de fato estar preocupado com isso.
Sentando-se no trono de carvalho, ele passou o polegar pela sobrancelha despreocupadamente, tédio estampado em seu semblante pálido e sardento.
Claramente buscava jogar conversa fora até chegar no ponto que queria. Com ele era assim. O interesse reinava, o restante era pura e simplesmente perda de tempo.
— Estava ótimo — Lucien encarou o mármore que simulava o chão da floresta no outono, repleta de folhas vermelhas e alaranjadas.
Altas pilastras ornadas se erguiam nas laterais do salão. A presença silenciosa e firme de Vaughan um pouco atrás dele o impedia de mandar Eris se foder como ele merecia.
Estavam há três meses na Corte Outonal, organizando os exércitos que chegavam ao ponto de encontro ali. Os números aumentavam a cada dia, mesmo que Lucien achasse que não poderia ser o suficiente.
Na semana seguinte teria uma reunião dos imediatos na Corte Estival e Lucien ainda não tinha dado a resposta ao irmão. Aquela proposta e a verdadeira intenção dela o fizeram ficar e saber mais.
Desde a noite da coroação, Eris não tocara mais no assunto, mas Lucien sentia seu olhar constante, como uma sombra e uma sugestão maldosa.
— Com os exércitos alinhados, podemos ir para o ponto de encontro amanhã — observou Eris, do nada, afastando o devaneio da raposa.
Lucien emitiu um suspiro:
— Sim, podemos — disse, ainda desconfiando das intenções do irmão.
Eles se olharam por algum tempo, uma brisa fresca entrava pela janela. A brisa do Outono. Sempre Outono. O tempo na Corte Noturna e nas terras humanas o fizera se acostumar com as Estações, fazendo com que aquilo se tornasse esquisito.
Eris não havia insistido, ao invés disso, emitiu um ruído entediado de concordância redundante.
— Ainda precisa nomear um dos generais como Comandante dos demais — observou Vaughan, referindo-se ao exército do irmão.
Eris o ignorou. Era bom em fingir que Vaughan não existia, e isso empesteava Lucien de ódio. Ele e Vaughan mal tiveram tempo para eles nos últimos meses, mas estavam sempre juntos. Quando ele se afastava, Lucien sentia o vazio da ausência de sua sombra e presença quente. Os dois desistiram de tentar alguma coisa sem serem interrompidos. Provavelmente, isso se tornou um acordo tácito entre eles.
— Pensou na minha proposta? — Eris o direcionou um olhar frio e interessado.
Lucien riu com ironia diante da obviedade. Talvez para outros, a atitude do irmão fosse inesperada, mas para ele: era a mesma merda de sempre.
— Humor nunca lhe caiu bem, irmão. — Ele olhou ao redor, também devolvendo o tédio em seu semblante. — Apesar de achar que sim.
— Pensou? — Insistiu, erguendo uma sobrancelha acobreada.
A proposta de ser imediato dele. Aquela maldita proposta sem pé nem cabeça, que ele havia ignorado desde a coroação do irmão.
— Não creio que seja viável para mim — respondeu, simplesmente. — Tampouco eu teria interesse em voltar para a Outonal — acrescentou a mais pura verdade de seu coração.
As sombras de Vaughan oscilavam atrás dele, conforme o macho se aproximava mais. Um instinto o dizia para fazer o mesmo, mas ignorou. Não daria o gostinho de demonstrar nada na frente de Eris. Por sorte, seus outros irmãos não estavam ali, e sim, provavelmente atormentando outras pessoas.
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Corte de Fogo e Gelo
FanfictionE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...