Capítulo 83- Irrevogável

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— Espero que tenham gostado do jantar — comentou o Grão-Senhor, sem de fato estar preocupado com isso.

Sentando-se no trono de carvalho, ele passou o polegar pela sobrancelha despreocupadamente, tédio estampado em seu semblante pálido e sardento.

Claramente buscava jogar conversa fora até chegar no ponto que queria. Com ele era assim. O interesse reinava, o restante era pura e simplesmente perda de tempo.

— Estava ótimo — Lucien encarou o mármore que simulava o chão da floresta no outono, repleta de folhas vermelhas e alaranjadas.

Altas pilastras ornadas se erguiam nas laterais do salão. A presença silenciosa e firme de Vaughan um pouco atrás dele o impedia de mandar Eris se foder como ele merecia.

Estavam há três meses na Corte Outonal, organizando os exércitos que chegavam ao ponto de encontro ali. Os números aumentavam a cada dia, mesmo que Lucien achasse que não poderia ser o suficiente.

Na semana seguinte teria uma reunião dos imediatos na Corte Estival e Lucien ainda não tinha dado a resposta ao irmão. Aquela proposta e a verdadeira intenção dela o fizeram ficar e saber mais.

Desde a noite da coroação, Eris não tocara mais no assunto, mas Lucien sentia seu olhar constante, como uma sombra e uma sugestão maldosa.

— Com os exércitos alinhados, podemos ir para o ponto de encontro amanhã — observou Eris, do nada, afastando o devaneio da raposa.

Lucien emitiu um suspiro:

— Sim, podemos — disse, ainda desconfiando das intenções do irmão.

Eles se olharam por algum tempo, uma brisa fresca entrava pela janela. A brisa do Outono. Sempre Outono. O tempo na Corte Noturna e nas terras humanas o fizera se acostumar com as Estações, fazendo com que aquilo se tornasse esquisito.

Eris não havia insistido, ao invés disso, emitiu um ruído entediado de concordância redundante.

— Ainda precisa nomear um dos generais como Comandante dos demais — observou Vaughan, referindo-se ao exército do irmão.

Eris o ignorou. Era bom em fingir que Vaughan não existia, e isso empesteava Lucien de ódio. Ele e Vaughan mal tiveram tempo para eles nos últimos meses, mas estavam sempre juntos. Quando ele se afastava, Lucien sentia o vazio da ausência de sua sombra e presença quente. Os dois desistiram de tentar alguma coisa sem serem interrompidos. Provavelmente, isso se tornou um acordo tácito entre eles.

— Pensou na minha proposta? — Eris o direcionou um olhar frio e interessado.

Lucien riu com ironia diante da obviedade. Talvez para outros, a atitude do irmão fosse inesperada, mas para ele: era a mesma merda de sempre.

— Humor nunca lhe caiu bem, irmão. — Ele olhou ao redor, também devolvendo o tédio em seu semblante. — Apesar de achar que sim.

— Pensou? — Insistiu, erguendo uma sobrancelha acobreada.

A proposta de ser imediato dele. Aquela maldita proposta sem pé nem cabeça, que ele havia ignorado desde a coroação do irmão.

— Não creio que seja viável para mim — respondeu, simplesmente. — Tampouco eu teria interesse em voltar para a Outonal — acrescentou a mais pura verdade de seu coração.

As sombras de Vaughan oscilavam atrás dele, conforme o macho se aproximava mais. Um instinto o dizia para fazer o mesmo, mas ignorou. Não daria o gostinho de demonstrar nada na frente de Eris. Por sorte, seus outros irmãos não estavam ali, e sim, provavelmente atormentando outras pessoas.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora