Capítulo 84- O despertar de Nestha

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Atenção: Este capítulo contém cenas impróprias para menores de 18 anos.

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Manon inclinou a cabeça para o lado, semicerrando os olhos. Pareceu gostar da resposta de Nestha. Algo a dizia isso.

A rainha recuou, embainhando Ceifadora do Vento com maestria. As duas haviam se aproximado desde o ocorrido dramático há um tempo, no antigo castelo da floresta. Por vezes, a rainha até a ajudava a treinar. A julgar pela sua postura insatisfeita, não tinha gostado nada de Nestha ter sido pega desprevenida.

Não baixe a guarda. Barulhos distraem para que a presa ataque, dissera a bruxa, certa vez.

Ela sabia que a fêmea estava certa, e se odiou por isso. Não deveria ter sido tão desatenta. Melhoraria sua guarda, ou não se chamava Nestha Archeron.

— Fomos informados que precisaria de ajuda — Manon retomou o assunto, observando o perímetro com a atenção de uma águia.

Ela deu a volta por Nestha e começou a seguir para Abraxos.

Nestha foi atrás, perguntando-se se ela trazia notícias de Cassian.

— Eu não precisava — manteve o orgulho, andando ao passo da bruxa.

Manon a olhou de cima a baixo com uma indiferença que Nestha sabia se tratar de uma fêmea que sempre precisou se mostrar forte. Que aguentou horrores e sobrevivera, como ela.

— Evidente que não — o tom jocoso fez a Grã-Feérica rir suavemente.

Abraxous emitiu um grunhido e se abaixou quando o alcançaram. Manon montou primeiro e Nestha ficou aliviada quando ela estendeu a mão. Estava exausta de andar. Exausta de muitas coisas, na verdade.

Alçaram voo imediatamente, a vontade de perguntar se ela sabia de Cassian fazia os ossos de seu corpo doerem tanto quanto o vento frio cortante. Sobrevoaram uma mata densa, adentrando cada vez mais nos confins da floresta onde o Senhor do Norte vivia. Pinheiros imensos e árvores tão antigas quanto Manon.

— Você atrapalhou meu casamento — a voz da bruxa cortou o vento.

Nestha endireitou a coluna.

— Seu... — segurou engasgo —...O que? Pelo amor dos antigos deuses.

— Pedi Dorian em casamento.

Aquilo era um...diálogo? A bruxa realmente puxava assunto com ela, conforme voavam mais próximas às copas das árvores.

— Achei que já iam casar — respondeu.

Nunca conseguiu manter diálogos normais com as pessoas. Amren era o mais próximo que poderia chamar de amiga, mas ainda assim, não tinham temas corriqueiros a tratar. Não como Manon tentava fazer no momento.

— Íamos — respondeu ela. Nestha tinha as mãos no entorno de sua cintura, e sentiu quando a fêmea contraiu o abdômen. — Mas eu quero agora. Muita coisa está acontecendo. Temos chances reais de perder. E não quero me arrepender de não ter feito isso.

A rainha-bruxa, que unificou os clãs, que virou a governante unitária, que ergueu exércitos e lutou em inúmeras batalhas, achava que eles tinham chances reais de perder.

Aquela guerra era diferente. Não era contra um macho raivoso sem motivações reais como o Rei de Hybern. Aquela guerra era contra um deus.

O deus sombrio, dono de criaturas que poderiam massacrar guerreiros destreinados em questão de segundos.

Ela afastou o pensamento, seguindo a conversa baixinho.

— Possui arrependimentos, Manon Bico Negro Crochan? — Era uma pergunta válida, depois de tudo o que sabia da fêmea.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora