Corte de Fogo e Gelo

Capítulo 19- Verdades, estas verdades

— E com essa, finalizamos a primeira rodada — cantarolou Helion, em sua contemplação frívola.

Os rostos ao redor estavam rígidos. Era como se cada um ali pensasse: No que mesmo eu fui me meter?

Haviam pegado a mesa mais longa do Rita's, que ficava próxima ao palco, onde uma música melancólica fazia os convidados da pista de dança desacelerarem e formarem casais para a dança. A mesa também tinha bancos embutidos nas paredes, de modo que algumas cadeiras foram acrescentadas ao outro lado para que coubesse todo mundo. Os três illyrianos optaram por cadeira, visto que suas asas não caberiam do outro lado. Além de muitas garrafas de vinho, diversos tira-gostos se dispunham ao longo da superfície plana.

Aedion ergueu a taça:

— Eu nunca fiz algo sabendo que deveria pedir desculpas depois — era a vez dele.

Estava sentado à beira de um dos bancos embutidos. Seus cabelos loiros estavam soltos de maneira casual. Fenrys observou os gestos do filho de Gavriel e percebeu: ele já estava bêbado, como muitos ali. Cassian, Lorcan e Nestha principalmente. Fenrys se sentara discretamente em uma cadeira ao lado de Azriel, esperando propositalmente que os outros lugares estivessem vagos para não parecer que forçava alguma situação. Os dois haviam conversado, ele compartilhara um segredo que, só de lembrar, revirava o estômago de Fenrys. Entretanto, não chegaram na parte onde decidiriam se contariam ou não aos outros sobre estarem se conhecendo. Talvez fosse cedo demais, talvez não fosse. Particularmente era difícil não tocar em Azriel com gestos casuais como os demais casais da mesa faziam. Era como se cada centímetro de seu corpo imortal gritasse que deveria mostrar aos outros o quanto Azriel era seu, mesmo que ainda não tivessem se reivindicado. Ele olhou ao redor, a tempo de ver três fêmeas se esgueirando pelos casais, que dançavam a música lenta, e os alcançando. Nenhuma delas fez a menção de falar, não enquanto todos os que participavam do jogo erguiam seus copos até a boca. Helion gargalhou graciosamente.

— Vou querer saber cada uma dessas histórias — declarou, pousando o olhar em Fenrys, que desviou na hora.

Quase pôde sentir as sombras de Azriel ao lado e ao redor dele, como em sinal para que Helion parasse com os olhares furtivos. Aquele Grão-Senhor era um paradoxo ambulante, desde a calma letal aos movimentos e atitudes claramente calculadas.

— Não agora! — disse uma voz que passava por trás de Fenrys, depois Az, Rhys e Feyre, Cass e seguia até a borda oposta da mesa, onde Rowan ocupava a cabeceira do banco.

O macho estava sério e quieto. Participava do jogo, mas seus olhos não paravam de passear entre os participantes. Era quase como se formulasse algo em sua mente. E o conhecia suficientemente bem para saber que sim, Rowan tramava naquela mente brilhante, sábia e imortal.

É uma festa, Fenrys lembrou-se. Você costumava se divertir nelas.

Mas as coisas eram diferentes, depois da guerra, depois de Maeve, Cairn e...Vaughan.

Lysandra surgiu ao lado de Fenrys, ou era Mor? Não soube dizer até que a fêmea entrasse em seu campo de visão. Era como se o cheiro de uma estivesse na outra, ainda que superficialmente, como acontece quando há muito contato físico. Deveriam estar dançando juntas, pensou ele.

A metamorfa deu um selinho em Aedion e se sentou em seu colo, bebericando de sua taça. O general Ashryver beijou o pescoço da jovem carinhosamente, fungando devagar ali. Fenrys não queria encarar, não mesmo, mas se viu fazendo ainda assim. O príncipe passou o braço em volta da cintura de sua esposa e os dois apenas mantiveram contato visual, como se conversassem por algum código. Isso durou por um curto período de tempo, antes dos dois voltarem a atenção a mesa. Ele viu Rowan se levantar para deixar Mor deslizar ao lugar vago. Assim que se sentou de novo, Aelin repetiu o gesto de Lys e se sentou no colo de seu parceiro.