Ela tinha consciência de tudo ao redor sem nem ao menos abrir os olhos. Um cheiro muito diferente, embora familiar, envolvia suas narinas. Bem mais intenso, bem mais avassalador.
Ela tinha consciência da presença dele. O cheiro forte e metalizado do sangue que foi limpa, mas estava ali. Sua essência.
A cabeça dela estava tonta. Sua audição estava apurada, como se a vida inteira tivesse havido um filtro, abafando os sons.
Sentia o toque áspero e firme de palmas que conhecia como as próprias.
Um gosto ruim tomava suas papilas gustativas. Ela moveu os lábios, sentindo o gosto.
Então, finalmente ouviu:
— Elide? — Era baixo, carinhoso, esperançoso.
Elide. Sim. Ela era Elide.
A Lady de Perranth.
E aquele que a chamava, era Lorcan: seu marido.
As lembranças começaram a voltar. De antes do momento em que a luz do macho do Crepúsculo a desacordou.
E depois? O que houve?
Seu bebê...
A onda gélida de temor percorreu seu corpo em um súbito.
Isso, por si só, a fez abrir os olhos. Devagar, ela foi se dando do espaço onde estava.
Era o mesmo quarto onde estivera antes de apagar. Estava vazio, silencioso.
Não tinha luz do dia, mas ela sabia que era noite. Tinha consciência disto como de tudo ao redor.
— Elide? — Lorcan a chamou novamente.
Seus olhos seguiram para o foco da voz.
Ele estava sentado diante da cama, em uma cadeira tão grande quanto ele.
Era tão lindo. E como se Elide percebesse, pela primeira vez, cada detalhe em seu belo rosto.
Os olhos dele marejavam, brilhantes, conforme ele levava a mão dela — seus dedos estavam mais longos? — para a boca e beijava com força.
Ela inspirou fundo, deixando que seus pulmões se enchessem de ar.
— Lorcan — conseguiu dizer, mesmo que a garganta estivesse seca.
O macho abriu um sorriso que aqueceu cada canto escuro e temoroso de seu coração.
— Estou aqui, Elide — garantiu ele.
A jovem virou a cabeça para a barriga, ainda um pouco inchada, e uma sensação ruim se instalou.
— Nosso filho — sim, porque era sabia que era um menino, mesmo que não tivesse certeza do que havia acontecido com ele.
Lorcan se levantou da cadeira e se sentou na beira da cama, levando a mão livre para o rosto dela. Uma carícia leve e pura como a brisa da manhã nas montanhas.
O macho entreabriu os lábios, depois os pressionou com força.
Elide se agitou, sentando na cama. Curiosamente, nenhuma dor do parto estava lá.
Nenhuma dor estava lá.
Nenhuma. Nem aquela que...
Ela não conseguiu respirar enquanto encarava seu tornozelo. A cicatriz estava lá, mas seu movimento estava...normal. Como deveria ser. Ela girou o pé e nenhuma dor aguda e arranhada subiu. Nada.
Pânico e incredulidade a tomaram. De rabo de olho, Lorcan observava o ato com o pé.
— Elide — ele chamou novamente, obrigando-a a encará-lo.
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Corte de Fogo e Gelo
FanfictionE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...