Equilíbrio

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A brisa do mar era boa, reconfortante. Sábia até, caso colocasse seu subconsciente para trabalhar no que realmente importava.

Menos de um mês, lembrou-se o lobo. Era o que faltava para que Bride viesse reivindicar o que era dela, e saberiam se realmente era digna de confiança.

Os dias foram se passando como borrões, onde o lobo se sentia culpado demais por estar feliz com seu filho e parceiro e frustrado por ainda não terem conseguido reproduzir o portal que fez com o Az do futuro.

Parte daquele trabalho era de seu Az, mas ele nunca tinha feito aquilo, e nem Fenrys, a não ser no futuro, quando o outro Az praticamente mastigou o que deveria fazer.

Tentaram convergir suas magias. Do lado de dentro da casa, foi um desastre, pois tiveram que repor tudo que era de vidro quando os estilhaçaram. Do lado de fora, geraram um suave terremoto. Depois buscaram estudar mais da magia um do outro.

Por fim, após alguns dias voltando para Velaris a noite para ficar com Aaron, decidiram que o garoto ficaria com eles, afinal, Elide não era uma babá, apesar de se dar bem com o filho deles.

A adaptação era...estranha e boa. Fenrys ainda não se permitia pensar no quanto sua vida mudou em questão de dois meses. Eras pareciam ter se passado, com tudo que aconteceu. E ele não poderia estar mais grato.

Da varanda da casa de veraneio, onde ele e Azriel tiveram seu começo glorioso, onde superaram seus medos e se entregaram de corpo e alma um ao outro, observava o parceiro na extensão gramada, ensinando a Aaron pequenos truques de encantador de sombras.

Sentado na cadeira de balanço, Fenrys observou e ouviu.

O dia estava claro, o vento era agradável, mas não mais que a visão do parceiro e do filho.

Ajoelhado diante de Arron, Az ainda era muito maior que ele, mas se sentou sobre os calcanhares para poder ficar um pouco menor e ameaçador.

Ele estendeu a mão direita para o menino.

— Sabe se tornar fumaça? — Az contraiu os lábios, tentando não rir ao pronunciar a palavra "fumaça".

O menino arisco assentiu.

— Mais ou menos.

Az contraiu o rosto. Abençoada era a audição e visão feérica de Fenrys, que assistia tudo da varanda.

— Explique o "mais ou menos" para mim? — disse Az, suavemente.

Aaron mordeu o lábio carnudo e avermelhado.

— Quando sentia frio, a minha fumaça me levava pra um lugar quente.

Fenrys se levantou da cadeira, a garganta se apertando com a declaração do filho. Ele se apoiou no parapeito de madeira polida e envernizada da varanda.

Az olhou Fenrys de soslaio, dor brilhando em seus olhos. Mas isso mudaria a partir dali.

— Isso mudou, Aaron — garantiu Az, baixinho. — Não vai mais sentir frio.

O menino balançou a cabeça, firme. Sua respiração saiu entrecortada, mas ele não chorou. Era forte como uma rocha, fora obrigado a isso desde o desmame e jogado nas valas do acampamento illyriano.

— Bom, como eu ia dizendo — prosseguiu o parceiro de Fenrys —, você pode fazer sua fumaça te obedecer.

— Como?

— Observe meu dedo — disse ele.

Ele mostrou o indicador da mão direita.

— Com o tempo, pode aprender a transformar apenas partes de si em fumaça — ele usava o vocabulário mais simples que conseguia. — Como uma mão — a mão de Az foi ficando translúcida conforme se misturava as sombras que a envolviam. — Ou até mesmo, um dedo — a mão voltou ao normal, mas o indicador se tornou sombras.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora