Fenrys fitou o pedaço de papel embaixo do enfeite de vidro, imóvel. Apenas pelo cheiro que vinha dele, sabia quem o tinha colocado ali. Subitamente, ele se viu tomado por uma ansiedade arrasadora. Ele pegou o papel e abrindo-o, sentiu o ar ser sugado de seus pulmões lentamente.
Ele leu.
Depois releu.
E leu mais uma vez, apenas para ter certeza de que não estava imaginando.
A letra de Azriel não era exatamente bonita, mas cada palavra era como um tiro em seu coração incrédulo.
Encontre-me na ponte, quando a lua estiver alta no céu.
Azriel
A noite já brilhava e Fenrys se apressou até a janela, olhando para o ângulo da lua, preocupado que tivesse lido o bilhete tarde demais. O alívio o dominou quando viu que a lua ainda subia. Tinha uma hora, talvez duas. Ele começou a agradecer a uma série de deuses por não ter bebido nem uma gota de vinho no jantar. Inconscientemente, era como se ele esperasse um movimento de Azriel, mesmo não tendo certeza de que a visão do macho em seu quarto na noite anterior tenha sido real.
Apressado, Fenrys correu para o banheiro. Ele deixou a banheira encher, xingando a si mesmo por estar preocupado com coisas estúpidas como perfume e o que vestir.
Que droga, ele se sentia como um filhote amador e virgem.
Mergulhou na banheira quente, deixando o corpo imergir à medida que o vapor subia e embaçava o espelho. Havia um buraco negro no lugar onde o estômago dele costumava ficar e ele agradeceu por não ter comido quase nada no jantar, que Azriel, premeditadamente, faltou.
Quando saiu do banho, esfregando os cabelos dourados com uma toalha, caminhou até o armário e escolheu uma túnica bege, com botões dourados, calças da mesma cor e botas de couro marrom. Penteou os cabelos e prendeu duas mechas da frente para trás com uma tira de couro, evidenciando suas orelhas pontiagudas. Fazia muito tempo que ele não se arrumava tanto, ficava tão...apresentável. Andou pelo quarto de um lado para o outro, sopesando se realmente Azriel queria conhece-lo ou apenas queria dizer para ele o deixar em paz. Sentiu-se surpreso ao perceber que ficaria arrasado se o macho o pedisse para se afastar.
Ele observava a lua subir no céu, a expectativa levando ondas gélidas ao seu estômago praticamente vazio. Faltando cinto minutos para a meia noite, Fenrys olhou, de sua janela, para a esquerda, onde tinha uma vista parcial da cidade. Não conseguia ver a ponte com clareza, contudo, sabia que ele estava lá.
Respirando pesadamente, Fenrys saltou.
***
Az fechou as mãos inquietas em punho e as enfiou nos bolsos da túnica escura que usava, conforme observava o curso calmo do rio. Assim, não pareceria tão idiota de estar sozinho no meio da ponte. A lua prateada beijava as águas e o parapeito verde turquesa. Olhando rapidamente para a ponte, não viu nenhum sinal de Fenrys. Seus batimentos correspondiam a ansiedade que ele avidamente buscava reprimir.
A ponte estava praticamente vazia àquela hora mas não era por isso que Az havia escolhido esse horário e sim, porque era sua hora favorita em Velaris. Onde as ruas encontravam-se calmas por fora, mas escondiam uma vida noturna por dentro. Onde a lua e as estrelas banhavam a cidade, tornando-a prateada e mágica. Havia alguma coisa na beleza daquela calma íntima que era importante e vital para Az e, por algum motivo, queria que fosse isso que mostrasse a Fenrys. A Lua chegou no alto do céu e Az a observou religiosamente.Um minuto se passou e nada aconteceu.
Dois minutos, e a lua já começava a se mover para o lado.
Três minutos, e àquela altura, Az já tinha começado a se achar muito idiota.
Quatro minutos, ele se arrependeu da ideia. É claro que aquele macho não gostava dele assim, só deveria estar em busca de diversão.
Cinco minutos. Az olhou mais uma vez para o céu, o sentimento de frustração o atingindo como uma rocha. Ele se virou para a direita e começou a caminhar.
E, naquele momento, sentiu uma presença silenciosa surgir atrás dele. Um cheiro estranhamente já familiar atingiu suas narinas e ele conteve o estremecer que passou por seu interior.
— Aonde pensa que vai? — Perguntou a figura atrás dele, a voz repleta de desafio e bom humor.
Az expandiu o peito largo em um inspirar profundo e contraiu as asas, para que pudesse olhar por cima do ombro. E, lá estava ele, com o sorrisinho irritante no rosto, ao completar:
— A noite mal começou.
***
Obs.: um pequeno bônus, só porque o círculo íntimo fiel a esta fic pediu com muito carinho. Obrigada!
E um brinde às estrelas que ouvem e aos sonhos que são atendidos ❤️
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Corte de Fogo e Gelo
FanfictionE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...