Capítulo 45- Tempestade de primavera

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Lucien correu por entre os corredores. Precisava se afastar, pelo menos por alguns metros, de seu pai biológico. As demais comitivas ainda não tinham chegado, o que o garantia que não encontraria nenhum rosto indesejado se deixasse a ala oeste do castelo. Podia ouvir os passos delicados que o seguiam, bem como quem era dona deles.

Mas ele não ousou parar. Não até encontrar um lugar onde conseguisse respirar. Sentia como se estivesse sufocando e não havia nada pior do que isso. As paredes pareciam se fechar em torno dele, enquanto memórias o inundavam como se tivessem aberto um livro o esfregado em seu rosto.

Descendo escadas que mais pareciam ter sido feitas de cristal, seguiu para átrio e por outro corredor, virando até encontrar um menos movimentado e estreito, que dava a uma pequena sacada para a floresta da pinheiros coberta de neve. Lucien abriu a porta de vidro, a maçaneta gelada ao toque, e caminhou para o frio da tarde. O vento completamente congelado o atingiu como uma chibatada e ele tentou evitar o estremecer que atravessou corpo.

Depositando as mãos no parapeito de cristal de gelo, o macho encarou a vista, buscando acalmar a mente perturbada. Respirou uma vez, duas, três...

Talvez Elain tivesse se perdido, era melhor assim. Não queria que ela o visse dessa maneira, descontrolado, sem rumo.

Lucien era o possível...herdeiro de Helion? De Bride?

Mal conseguia pensar o que seria ter um poder desses, parecia absurdo. Não o queria, tampouco. Seria atrair uma atenção para si que, sinceramente, era a última coisa que desejava.

E o que era aquilo que Helion dissera? Que não era seu herdeiro...ainda.

Ainda?

Como se Lucien quisesse ser herdeiro dele, do macho que o deixou sofrer o inferno. Que deixou sua mãe sofrer um inferno nas mãos de Beron enquanto se divertia em suas festinhas privadas.

Respirou mais uma vez. Certamente tinha acabado com a reunião, considerando a forma como saiu. Precisou de toda coragem para passar por cima do orgulho que rugia em seu coração e aceitar a oferta de Feyre. Mas, percebeu, que casa era onde estavam as pessoas que o amavam, que se importavam com ele. Feyre se importava, pelo menos ela, naquele mundo de frieza.

Lucien sacudiu a cabeça, afastando a autopiedade. Usou bastante dela na última semana, não faria isso mais, não agora que possuía uma casa para qual voltar.

Os passos delicados ecoaram pelo corredor, enrijecendo a linha da coluna de Lucien, que segurou firme no corrimão da varanda. O cheiro de flores silvestres invadiu suas narinas, misturado ao leve aroma de rosas e tulipas. Era como estar em um jardim, ficar perto da parceira.

Notando que ela tinha parado no batente da porta, ele inclinou a cabeça para o lado, apenas o suficiente para que seu sussurro não se perdesse no vento.

— Elain — ele forçou a fala, mas a voz saiu rouca —, deveria entrar.

—Não sou tão frágil, Lucien — o nome dele nos lábios dela... — Apesar do que todos pensam.

Ele engoliu em seco.

— Não quis insinuar isso — antecipou-se ele. — Mas, o que veio fazer atrás de mim?

Pelo soslaio, notou que ela abraçou o próprio corpo, mordendo os lábios.

— Porque vi e...senti que estava angustiado — respondeu ela. — Isso ainda é estranho para mim, não vou mentir, mas precisava saber como estava.

Suprimindo um sorriso que veio do fundo de sua alma, o macho se virou para a parceira, trajada em um casaco rosa claro, os cabelos castanho-dourados caindo como uma cascata sobre os ombros, os olhos castanhos grandes e curiosos, focando nos dele, deixando-o mais sem ar do que já estava.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora