Capítulo 13- O encontro

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Az sentiu o corpo inteiro enrijecer. Virou-se devagar, a brisa fria batendo em seu rosto, enquanto Fenrys caminhava preguiçosamente até ele. O andar era petulante e o risinho no rosto era apenas um fantasma discreto. Fenrys usava uma túnica creme cujos detalhes em espirais puxavam para o dourado, como os botões. Ele definitivamente parecia um deus. Az não ouvia um barulho sequer conforme ele andava. A lua refletia em seus olhos, cabelos e pele, misturando seu ouro ao prateado da noite. Parte de seu cabelo estava preso para trás e o restante caía sobre os ombros de forma onduladamente charmosa.

O lobo parou a três passos dele, avaliando-o dos pés a cabeça, demorando-se de maneira que fez Az engolir em seco. Agradeceu por suas mãos estarem dentro dos bolsos, caso contrário, seria incapaz de conter a onda de tremor que o dominou no instante que o vento trouxe o cheiro de Fenrys para ele. Um cheiro que lembrava florestas após uma tempestade, ou o frio aconchegante das montanhas, afastado pelo calor de uma lareia. Aquilo o atingiu com tanta força que foi necessário muito controle para não cambalear para trás.

— Achei que não viesse — Az conseguiu dizer. — Estava desistindo?

— Você estava? — Perguntou Fenrys, a voz sem um pingo de ironia, apenas curiosidade hesitante.

Az riu sem achar graça.

— Não se responde uma pergunta com outra.

Fenrys mordeu o lábio e olhou para algum ponto do rio rapidamente, antes de fixar os olhos em Az. A intensidade tornou impossível que ele desviasse.

— Jamais — disse ele, depois de um tempo. — Jamais desistiria. Você?

Az puxou o ar, este não veio.

— Eu... — o maxilar dele enrijeceu como gelo. — Achei que não viesse. Estava indo embora, sim.

Caso não tivesse muito incapaz de discernir emoções, ele quase achou ter visto um lapso de tristeza brilhar nos olhos do lobo, que agora pareciam chocolate de perto. Fenrys emitiu um estalo com a língua, também colocando as mãos nos bolsos.

Sincero — elogiou ele, em uma mistura de sério com casual. Ele apontou com o indicador para o céu. — Onde a lua está, Azriel?

Az sentiu uma onda de raiva o dominar, mas, relutante, ergueu o olhar. Ela estava bem no centro, talvez nem tanto.

— Ela passou alguns centímetros do centro — observou Az, sentindo-se idiota.

Fenrys revirou os olhos e riu descontraidamente. Seus dentes brancos e caninos afiados eram tão harmônicos com o resto dos lábios.

— Bom, eu não sabia que você era nesse nível de perfeccionista. Poderia dizer uma hora certa na próxima vez, ao invés de toda a coisa enigmática — respondeu ele, com um sorriso suave no semblante tranquilo. Ele estreitou os olhos para Az. — Qual é problema da Corte Noturna com hora certa, afinal?

Az bufou.

— Eu posso ter exagerado um pouco com toda a questão do ângulo da lua — admitiu ele, baixinho.

Fenrys deu mais um passo para frente, ainda com o ar de casualidade divertida, que o deixava ainda mais tenso. Não é como se Az fosse bom em improvisar quando se tratava de encontros pessoais. Ele fora feito para pensar como um espião e como um guerreiro. A parte que dizia respeito a sua vida pessoal era negligenciada e por um bom motivo.

— Vamos combinar assim — iniciou Fenrys, calmamente. — Da próxima vez, marcamos um horário certo. Porque do meu quarto, o ângulo certo da lua era o de agora. — Ele parou, como se de repente entendesse algo que antes não fora capaz. Seu semblante se transformou em algo rígido e ilegível. — A não ser que você tenha se arrependido e estava indo embora antes de eu chegar...Deveria ter imaginado...

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora