— Ele fala?
— Não.
— Há quanto tempo está assim?
Aelin se adiantou pelo quarto de Lysandra e Aedion. Como os demais quartos, o mármore imitava gelo polido, a decoração era branca e a cama com dossel, que também parecia ser feito de gelo, possuía cortinas finas e grossas peles brancas cobriam o colchão.
Sentado à beira da cama, seu primo estava parado, ainda com as roupas de festa. Ele ficou ali, encarando um ponto fixo como se nem ao menos pudesse ser capaz de pronunciar seu nome. O coração de Aelin se comprimiu enquanto observava a expressão vazia de Aedion.
— Desde que tudo aconteceu — assumiu Lys, aflita. — Estou preocupada. Jamais o vi desse jeito.
— Está catatônico — constatou Rowan. Era tudo o que Aelin não queria ter ouvido. A depender do trauma, a pessoa pode entrar em uma espécie de transe, onde não há como reagir. Era o estado de Aedion agora, preso no próprio sofrimento. Um estado psicológico de reversão complicada e cuidadosa, se a pessoa mão não quiser ser ajudada. — Talvez Aelin precise dar um comando para ele.
Aelin se ajoelhou diante de seu gêmeo. O macho sequer mexeu. Seus olhos turquesa vítreos e vazios encaravam um ponto sem foco.
— Se eu o forçar para fora da própria mente pode ser pior — disse a rainha. — Ele pode retornar ainda mais arrasado.
Rowan cruzou os braços, pensativo. Não estava sendo fácil para ele também.
Para ninguém, sinceramente.
— Chame Feyre — pediu a Lys. Não queria deixar Rowan sozinho nem por um minuto e a metamorfa parecia pronta para fazer tudo em seu alcance para trazer o marido de volta. — Tive uma ideia.
Lys assentiu e saiu apressada do quarto, fechando a porta atrás de si.
A rainha fechou as mãos no rosto do príncipe de Terrasen. Ele estava terrivelmente parado.
— Aedion — chamou, baixinho. — Sou eu, Aelin.
Nada.
— Vou roubar sua espada e o escudo — ameaçou ela, buscando tentar algo mais jocoso.
Nada.
— Lys vai deixar você por Mor se não acordar — continuou.
— Sério, Aelin? — Rowan pareceu chocado. — O pai dele voltou dos mortos.
Aelin olhou o parceiro por cima do ombro.
— Mas o orgulho de macho Ashryver de Aedion pode ser maior até que um estado catatônico — ela bufou, voltando atenção para o primo.
Nada.
Ele estava mesmo submerso em pensamentos. Estava mesmo perdido.
— Reaja, Aedion — pediu, a agonia a comprimindo a garganta. — Você consegue.
— O choque dele foi grande, Coração de Fogo — a mão calejada de Rowan tocou seu ombro nu. — Pode se que ele esteja revivendo alguns momentos ruins de sua vida.
Aelin engoliu em seco. Por um momento, lembrou-se da vida que crescia em seu ventre, tão nova e pequena quanto uma semente. Tinha de contar para Rowan. Mas nunca parecia ser a ocasião certa, especialmente com tudo que acontecia.
— Imagine só como não deve ter sido para Gavriel também. Descobrir que teve um filho e que a oportunidade de estar com ele lhe foi tomada por causa de Maeve — continuou Rowan.
A coluna da rainha se aprumou e ela se levantou, virando para o parceiro. Aqueles olhos verde-pinho, que tanto a intrigaram no início, agora a arrancavam o fôlego. Sempre arrancariam, ainda que se passassem mil anos.
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Corte de Fogo e Gelo
FanficE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...