Fenrys sentiu uma gota bater no topo de sua cabeça.
Depois outra.
Assim, outra veio, escorrendo em seu rosto, refrescando sua pele quente pelas lágrimas silenciosas que derramava.
Admirou-se pela ironia de que tudo acabava, em apenas uma fração de segundo, um movimento errado, uma palavra fora de contexto. Nem ao menos conseguia ter raiva de Helion. Na hora, tudo que queria era matar o Grão-Senhor, mas de quê adiantaria? Considerando que ele apenas contou o que Fenrys se aterrorizava em sequer cogitar.
O que tinha para oferecer a Az? Era um macho quebrado. O illyriano não deveria ter tempo para as suas lamúrias, por mais que tivesse dito que o amava.
Não sentiria pena de si mesmo, entretanto. Era um sobrevivente. Um coração partido, mesmo que por um parceiro, seria remendado eventualmente, seria...
Ele engoliu em seco quando pingos mais grossos, misturados aos raios incandescentes e trovões estrondosos, cortaram o céu sobre sua cabeça.
Levou a mão inconscientemente aos botões da túnica, já suficientemente suja devido aos três dias em que apenas existira. Estava ardendo em febre, sabia disso. Sentia em cada músculo e terminação nervosa, bem como nos espasmos de frio que sofria. Se era de cansaço ou emocional, isso não sabia, também pouco importava.
Ele começou a desabotoar a roupa, em movimentos lentos, conforme a chuva se intensificava. O vento ressoava em seus ouvidos e balançava alguns fios de seu cabelo, que ainda não estavam totalmente molhados.
Por fim, conseguiu se livrar da peça, deixando que deslizasse por seus braços até cair na grama. Ergueu a cabeça para cima, seu corpo se arrepiando...
***
Azriel percorria a Costa Leste pois tinha certeza de que Fenrys estaria por ali. Seus lábios estavam secos pelo vento da tempestade. Deveria estar a três ou quatro horas voando pelas planícies sem descanso.
Fenrys, onde está você? Perguntou, mais para si mesmo.
Naquele ponto dormente, firme e distante em sua mente, ele puxou de novo, mas não o suficiente para que Fenrys sentisse. Tinha medo de que ele fugiria novamente se soubesse que Azriel o estava procurando.
Precisava encontrá-lo, saber que estava bem. A culpa o consumia a cada segundo que percorria aquela longa extensão.
Achou que poderia estar seguindo uma pista às cegas, porque não fazia sentido o rumo que tomava, pelo menos, na maioria das vezes.
O vento congelava suas asas, seu rosto estava rijo, bem como seu corpo, pelo frio que a tempestade trazia.
Um raio cortou o céu.
Az retesou, inspirando profundamente, focado em ir adiante.
Fenrys. Fenrys. Fenrys.
Uma onda gélida de medo o invadia, instalando-se no estômago, forçando Az a continuar contra todas as circunstâncias.
Belas paisagens, pensou. Os bloqueios continentais possuíam uma bela vista para o mar.
Não sabia nem se o parceiro gostava do mar e isso era horrível. Faria questão de conhecer cada pedacinho dele. Jamais deixaria que alguém o magoasse, como sabia que tinha feito ao ir embora durante sua onda de pânico.
Az girou o corpo, intensificando sua velocidade e gerando, ao mesmo tempo, um pouco de calor.
Há quilômetros dele, as terminações rochosas de um local mais do que familiar começaram a ficar visíveis.
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Corte de Fogo e Gelo
Fiksi PenggemarE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...