O conto do Lobo e do Encantador

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Fazia anos que Fenrys não pisava em Doranelle.

Depois de tudo que acontecera, de todo o mau que sofrera ali, era impossível.

Mas aquela era sua jornada de cura e ele queria mostrar a seu filho onde tudo começou, onde viveu grande parte de sua vida.

O lugar ainda era muito bonito. Lindo, na verdade.

Levou meses para Fenrys convencer a Az a deixar Yrene curar sua mãe. A deixar que o mundo soubesse de sua mãe. Yrene a curou, por fim, mas ela sofreria para sempre com as sequelas, tendo lapsos momentâneos de esquecimento. Era melhor que nada.

Az condicionou esse pedido ao que Fenrys cumpria agora. Ir a Doranelle. Perder o medo de voltar a uma cidade que apesar de tudo, um dia amou muito. Visitar o túmulo do irmão, colocar suas propriedades a venda. Libertar-se da angústia.

As pessoas de Doranelle não estavam acostumados com forasteiros de raças diferentes, mas isso não fazia da maioria das pessoas lá miseráveis. Algumas eram boas, sem preconceitos. A maioria, na verdade.

A era de Maeve ainda deixava suas marcas, mas todos conheciam Fenrys, sabiam quem ele havia se tornado e o tratariam "bem", mesmo a contragosto.

Eles caminharam pelas ruas em direção ao castelo onde ele tanto sofreu. Tinha prometido a Sellene que ao menos almoçaria com ela. Não se demoraria em Doranelle, contudo, mesmo que ainda tivesse um lugar para ir.

Se Az fora corajoso em deixar Yrene dar uma melhor qualidade de vida a sua mãe, Fenrys também seria em tirar algo bom de sua terra natal.

E foi assim que eles acabaram ali. A estadia seria breve, mas ele levara o filho e o parceiro e mostraria a eles os lugares que mais gostava.

Existia também a parte sombria de Doranelle, que fazia dos machinhos bastardos, escórias. Mesmo com o governo de Sellene, era difícil desprende-los de velhos hábitos.

Escória, como Aaron era naquele maldito acampamento illyriano. Somente pensar isso o deixava louco de ódio.

No centro da praça de pedras brancas, haviam jovens crianças dançando. Estava havendo uma comemoração naquele dia. Todas as fêmeas usavam arcos de flores silvetres e os machos, coroas de louro. Sim, Fenrys se lembrava daquela comemoração. Lembra-se vagamente de algumas delas por estar muito bêbado.

Quando feéricos se uniam em matrimônio, Doranelle inteira ficava em festa. Não era algo muito comum por ali, se casar. A imortalidade poderia ser muito tempo e se um dos cônjuges encontrasse um parceiro, poderia virar uma bola de neve.

Os noivos certamente já deviam ter deixado a cerimônia. Barraquinhas vendiam desde álcool até sopas e guloseimas deliciosas.

Aaron suspirou, desejo por fazer parte da dança. Fenrys queria poder dizer ao filho que as pessoas ali eram, em grande maioria, não muito sucintas a raças novas. Ninguém ali sequer vira um illyriano. Mas como negar ao filho um desejo que tão facilmente brilhava em seus olhos caramelo-dourados?

Todas as pessoas que olhavam na direção da família de Fenrys, cochichavam entre si. Afinal, ele ainda era temido por muitos, o que seria uma deixa para que ninguém mexesse com Aaron.

Az segurou a mão de Fenrys, um simples ato de macho marcando território quando um outro encarou Fenrys com luxúria dos pés a cabeça. Aquele desgraçado era conhecido. Um dos amantes de Fenrys quando estava em noites em que o álcool apagava boa parte.

Quem é ele? A voz melódica e mortal de Azriel falou em sua mente.

Alguém que não é importante.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora