71. Capítulo 23 - A Cidade que Dorme - 3ª parte

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Capítulo 23 – A Cidade que Dorme – 3ª parte


Dugan


— Como você tem eletricidade? — Eu perguntei, em uma tentativa de tirar minha mente disso.

Van deu uma olhadela deliberada para trás, seguindo o acorde de extensão conectado à TV com o dedo indicador para a outra sala. — Gerador — e então ele se moveu em direção ao telhado — Conectado à energia solar.

Depois disso, ele fez um gesto para que a mulher viesse e limpasse o prato. Ela veio e pegou o prato dele, ainda se recusando a olhar para Kara e para mim. Foi porque ela não estava a nos observar que eu pude observá-la tão meticulosamente, e houve uma hesitação que ela fez quando pegou sua faca que me deixou confiante de que iríamos embora assim que a chuva parasse. Ela não pegou o utensílio como uma mulher limpando pratos. Ela segurou a alça com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos, e a segurou com a lâmina em direção ao próprio corpo como se em qualquer segundo ela daria um golpe de costas em Van. Ela pegou a faca como uma mulher com rancor. No entanto foi apenas isso, aquela leve hesitação, e então ela saiu a correr com os itens.

— Você precisa de um corte de cabelo, meu amigo — disse Van, interrompendo-me de olhar para a mulher. — Ela pode cortar para você.

Eu estava prestes a declinar, mas ao levar a mão à cabeça percebi pela primeira vez o quão precisa era sua declaração. Minha mão afundou alguns centímetros no topo da minha cabeça. Eu precisava muito de um corte de cabelo. — Eu realmente agradeceria — respondi, ao direcionar minha declaração para a mulher.

A mulher imediatamente se dirigiu para uma sala separada à direita, e Van acenou atrás dela como se eu devesse segui-la: — Por favor. — Então ele virou os olhos para Kara. — Você gosta de filmes?

Eu fiquei hesitante enquanto a menina acenou para ele, esperando que ela fizesse o mesmo, entretanto, ela simplesmente se sentou lá. — Você nos daria um segundo? — Perguntei a Van educadamente, e então acenei para Kara vir comigo. Eu a levei a alguns metros de distância, longe o suficiente para que eu pudesse sussurrar para ela sem que Van ou que a mulher nos ouvissem. — Não vou deixar você sozinha com ele.

— Eu também não gosto dele — ela respondeu em concordância. — Mas se você está sozinho com a mulher, você pode fazer perguntas a ela. Vou continuar a sondar o Van. — Eu franzi meus lábios em um desgosto profundo, então ela acrescentou antes que eu pudesse protestar: — Você estará bem ali. Vou gritar se ele tentar alguma coisa assustadora. — Ela se aproximou para dar um tapinha no meu afro em miniatura com uma risada. — Você precisa seriamente de um corte de cabelo. — Então, como se estivesse tudo resolvido, ela voltou para Van dizendo alegremente: — Faz muito tempo que não vejo um filme.

Com um suspiro de derrota, entrei na outra sala, seccionada por uma grande pilha de mesas de escritório. A mulher estava lá dentro puxando um aparador elétrico sem fio e, quando me viu, colocou a mão no encosto de uma cadeira dobrável para me instruir a me sentar sem fazer contato visual.

A maneira como ela havia segurado aquela navalha me deixou um pouco desconfiado dela, então, quando me dirigi para a cadeira, analisei a mesa em que ela tinha os cortadores colocados, procurando qualquer coisa com a qual ela pudesse me atacar. Quando me sentei, ela se moveu para os diferentes tamanhos de pentes, silenciosamente a me indagar qual eu queria.

Visto que provavelmente levaria muito tempo depois disso que eu conseguiria meu próximo corte, eu disse gentilmente: — Vou pegar o mais curto que você tiver. — Ela pegou o aparador sem colocar um pente de comprimento nele, imediatamente ligando-o para começar a cortar meu cabelo. — Você tem um nome? — Eu perguntei, baixinho para que ela soubesse que eu tentava questionar sem que Van pudesse ouvir. No entanto, ela não mostrou que sequer tinha me ouvido. — Eu sou Dugan.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora