129. Capítulo 42 - Os Que Me São Caros - 1ª parte

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Capítulo 42 – Os que me são caros – 1ª parte


The Fear de Ben Howard


Os Que me são Caros – 1ª parte


Dugan


Flashback on – seis anos antes


No pátio aberto dessa casa não havia como se esconder do sol. A colina rochosa na parte de trás da residência absorvia o calor, de modo que, mesmo sentado sob a sombra de um grande vaso de plantas, como eu estava agora, ainda podia sentir as ondas de calor irradiar da pedra.

Era de se admirar que Patricia ainda dormisse no chão ao meu lado – a manhã escaldante havia me acordado há quase uma hora. No entanto, isso era tudo o que ela fazia nos últimos dias desde que nós chegamos aqui. Dormir. Comia apenas o suficiente para que eu não pudesse reclamar de seu estômago roncar. Ficava a olhar. Dormia mais um pouco.

Ela ainda mal falava, e o fato de estar dividindo um saco de dormir comigo parecia mais um hábito do que um desejo de estar perto. Porém eu me recusava a pensar além da dor que a distância dela causava, uma dor que eu forçava a descer o mais fundo que podia.

Recusei-me a tentar animá-la ainda mais, porque ela estava com raiva e isso não fez nada de bom por nós dois. Recusei-me a pensar que não havia acabado de perder Chrissie naquela noite.

Alguns dos outros estavam acordados, ou por terem acordado recentemente ou por terem ficado acordados a noite toda, pois já estavam acostumados.

Havia uma pequena fogueira acesa no poço aberto, portanto, embora estivesse quente demais para ir em busca de calor, peguei uma lata de feijão e a levei para aquecê-la. Ninguém me disse nada. Nem Danny, nem Rachel, nem mesmo uma das outras mulheres, Lucy. Buck acenou para mim uma vez e voltou a bebericar de uma xícara de café de metal. Os outros olhavam para mim de vez em quando, sem jeito e apenas por um momento. Nenhum deles sabia o que dizer.

Demorou apenas alguns minutos para a comida esquentar, mas quando voltei para o saco de dormir, Patricia já estava sentada, encostada naquele grande vaso de jardim. Coloquei a lata quente na frente dela e lhe entreguei uma colher da minha mochila. Ela olhava fixamente para os grãos antes de tocá-los, com uma falta de apetite tão grave que se traduzia em repulsa em seus olhos castanhos escuros e na curva descendente de sua boca.

No entanto, ela havia desistido de discutir comigo sobre comer e acabou por pegar a lata para forçar algumas mordidas. Ela engoliu tudo o que pôde e deixou os outros três quartos da lata para que eu terminasse. Eu a consumi em silêncio. Quando acabou, lambi a colher e a coloquei de volta na minha mochila, e ficamos sentados quietos.

Vi Buck olhar para nós algumas vezes, parecia querer se aproximar. Se eu tivesse espírito de incentivo, teria lhe dado um sorriso, entretanto meu espírito estava ferido. O de minha esposa estava quebrado. Mesmo sem isso, na próxima vez que Buck olhou para nós, ele reuniu coragem para seguir até nosso caminho.

— Bom dia — ele nos cumprimentou com uma simpática falta de entusiasmo. Agora eu consegui apertar meus lábios com a recepção. Patricia nem sequer olhou para ele. — Estávamos conversando — Buck começou — sobre ir para o norte. — Ele se agachou de modo a ficar na altura dos nossos olhos e se abaixou desconfortavelmente para se ocupar com o zíper do saco de dormir. — Lucy tem alguns familiares lá em cima que ela quer procurar. Achei que nós deveríamos ir embora hoje à noite. — Ele tomou um longo gole de sua xícara de café e olhou para mim. — Sei que você sofreu uma perda. E não foi exatamente o tempo suficiente para se recuperar disso. — A atenção dele se voltou para Trish, que finalmente o reconheceu com os olhos. — Mas vocês são mais do que bem-vindos. Provavelmente não é bom ficar em um lugar por muito tempo.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora