Capítulo 42 – Os que me são caros – 2ª parte
Dugan
— Vá devagar — eu sussurrei para Kara do banco do passageiro, embora a janela do Hummer estivesse fechada.
Estávamos a dirigir por uma pequena cidade na calada da noite, fazíamos uma rápida varredura para verificar se valia a pena ou não procurar por suprimentos. Tínhamos pegado estradas secundárias até aqui, em Irvine, Kentucky, na esperança de evitar as interestaduais mais populares, onde era mais provável nós encontrarmos invasores.
A adolescente diminuiu a pisada no acelerador, evitando que o motor funcionasse muito alto para não fazer barulho em excesso. — Nenhuma das lojas tem placas — observou ela, ao olhar pela janela em uma tentativa de enxergar sem os faróis acesos. — Como saberemos o que há nelas?
— Eu não sei.
Meu estômago roncou alto e me ajeitei no assento, achando que isso poderia ajudar o vazio que queimava em minha barriga. A mudança de posição provocou uma pontada no meu peito, mas evitei reagir, preocupado que Kara finalmente percebesse o que eu tentava esconder. Minha condição estava a piorar. Antes eu ficava sem fôlego com facilidade, porém a dor só vinha quando eu fazia algo que a provocava. Agora era incessante e se espalhava para o lado direito. Havia uma pressão interminável no meu pulmão bom, o que dificultava a respiração que já estava prejudicada, e eu podia sentir meu coração trabalhar arduamente para fazer circular o pouco oxigênio que recebia. Eu me sentia cansado. Sempre cansado, e não ajudava o fato de que mal nós estávamos comendo.
— Volte para a ponte — eu disse a Kara, e ela imediatamente começou a virar o veículo. — Vamos estacionar do outro lado da água e entrar.
Ela nos levou de volta para a orla da cidade e para a ponte e, depois de atravessar a água, tirou o Hummer de um acostamento de terra. — Vamos chegar à Pensilvânia em breve? — Perguntou ela, ao desligar o motor e abrir a porta.
— Kara — eu respirei o mais fundo que pude e, embora o que eu sentisse fosse preocupação, a dor e a exaustão que eu sentia faziam com que isso transparecesse como frustração.
A menina sequer havia dormido desde que nós saímos de Oklahoma, insistia em chegar a Pittsburgh o mais rápido possível. Quando nós paramos, ela ainda estava inquieta demais para cochilar, e as duas poucas refeições que fizemos ela consumiu como se fosse um inconveniente, uma interrupção desnecessária do nosso progresso.
Eu me mostrava preocupado com ela, com o desespero dela por vingança, mas eu me sentia muito cansado e sem fôlego para fazer mais do que olhar para ela com preocupação.
— Só estou perguntando — respondeu ela na defensiva, fechando a porta com toda a força que tinha para enfatizar sua ofensa.
Recostei a cabeça no assento e amassei os dedos sobre os olhos para me lembrar de que eu não era o único que estava cansado, inquieto, impaciente e com fome. Depois de abrir a porta, saí do banco do passageiro e fui para a parte de trás do veículo, onde Kara havia aberto a porta traseira. Ela tirava nossas mochilas e armas, encostando nossas ferramentas de jardinagem no para-choque e, quando pegou a arma com uma única bala, hesitou. Ela segurou o cabo com uma das mãos enquanto a outra estava apoiada sob o cano, com o polegar a passar sobre os sulcos polidos do cilindro. Por um minuto, ela ficou olhando para a arma, com a mandíbula a se mover de um lado para o outro com uma fúria reconhecível. Em seguida, entregou-a facilmente para mim, como se não tivesse hesitado e como se não estivesse claramente a considerar o inimigo para o qual usaria aquela única bala.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
General FictionHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...