Capítulo 34 – Raridade da Verdade – 2ª parte
Genevieve
Eu poderia facilmente fazê-lo agora. Tomar os lábios dela nos meus. Empurrá-la pelo corredor até a última sala que nós havíamos aberto. Eu poderia fazer isso tão rapidamente que ninguém questionaria por quanto tempo estivemos fora. Errado. Tão errado.
— Estou muito perto? — Echo perguntou baixinho. Aqueles olhos cinzentos continuavam a passar por todo meu rosto como se ela não conseguisse descobrir exatamente o que eu estava a pensar, mas eu podia dizer que ela tentava se conter para não flertar.
Eu senti uma lenta e incontrolável sacodida de cabeça, mas no momento seguinte minha boca veio em meu socorro, e eu deixei escapar: — Sim.
Sem um único protesto Echo tirou a mão da minha, porém houve um visível desapontamento quando ela encostou as costas contra a parede ao lado da porta. — Se eu tivesse que resumir nosso relacionamento em uma reação — falou ela com uma risada sem humor. — Seria isso. — Eu não comentei nada, usei a fechadura como uma distração para tentar me forçar a me controlar. — Seu corpo diz uma coisa — ela continuou para si mesma. — E sua boca diz o oposto. Em qual delas Genevieve atuará essa noite? — Virei os olhos para ela, prestes a implorar para que ela deixasse para lá. Ela podia ver isso no meu rosto, e levantou as mãos para o alto em um sinal de rendição. — Calando a boca.
Eu imediatamente concentrei toda a minha atenção nos grampos de cabelo em minhas mãos. Foi tão desgastante que comecei a ficar frustrada quando não conseguia fazer nenhum progresso. Cinco minutos depois suspirei e deixei cair meus braços cansados.
— Não consigo — eu gemi. — Não sei o que estou fazendo de errado.
— Você é ótima com suas mãos — comentou Echo com uma pitada de provocação em seu tom. — Mas você não está exatamente acostumada a ser gentil. — Eu me ressenti disso, especialmente porque estava bem claro, pela profundidade de sua linha de riso, que ela não falava apenas sobre arrombar fechaduras. — Você está forçando.
— Não estou forçando — eu resmunguei.
Ao encontrar determinação no desejo de provar que ela estava errada, levantei os braços para a porta novamente e reinseri os grampos. Porém eu era péssima nisso. Eu não tinha nada do talento artístico dela... Ou da paciência dela. Quanto mais eu tentava, mais eu fracassava. Quanto mais eu fracassava, mais frustrada eu ficava e mais eu empurrava a fechadura.
Outros cinco minutos depois, Echo repetiu entediada: — Você está forçando isso.
— Eu não estou... eu... — Eu puxei os grampos para fora e caí de volta em meus calcanhares, respirando fundo para não me irritar. O que eu não estava acostumada era com o fracasso. — Terminei. Vou tentar de novo mais tarde.
Devolvi os grampos para Echo e trocamos de lugar para que ela pudesse fazer o que precisava. Ela demorou menos de um minuto para abrir a porta. Ela fez com que parecesse tão fácil, e eu não pude deixar de fazer uma careta irritada para ela enquanto ela passava para a próxima. Alguns dos cômodos já haviam sido destrancados, e depois que Echo desfez o restante, descemos as escadas para começar a verificar as unidades quanto à presença de Ferais. Fácil era um eufemismo na hora de limpar esse prédio.
Ao sairmos, prendi a corrente mais uma vez do lado de fora da porta, e passamos a começar a limpar casas e pequenos escritórios. O inverno frio, a falta de comida ou o agrupamento de Ferais em outro lugar simplificaram nosso trabalho, e o detalhe mais emocionante da noite foi que encontramos um velho radioamador em um armário de um dos escritórios. Quando o pôr-do-sol se aproximava, levamos de volta ao quartel em pedaços. Eu tinha Hatfield, que era boa com tecnologia de comunicação, então o montou novamente, enquanto Harvey fazia sua mágica com os suprimentos elétricos. Com cada um dos meus soldados sentados ao redor da sala vazia em que a colocamos, Hatfield discava na frequência do acampamento.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
General FictionHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...