144. Capítulo 47 - Há Cálculo - 1ª parte

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Capítulo 47 – Há Cálculo – 1ª parte


Glory and Gore, de Lorde


Há Cálculo


Echo


Era difícil saber que horas da manhã eram com as cortinas do meu quarto fechadas, no entanto, mesmo antes de abrir os olhos eu percebi que parecia tarde. Normalmente, Genevieve acordava primeiro e me levantava porque estava pronta para começar a trabalhar. Ao levantar a cabeça, eu olhei para ela no sofá. Ela estava deitada de costas com as mãos cruzadas atrás da cabeça, com os olhos bem abertos e olhando para o teto.

— Está acordada há muito tempo? — Perguntei, ao passar a mão sonolenta pelo rosto.

Ela se mexeu, rolando para o lado enquanto respondia: — Mais ou menos.

— Você não queria... — Fiz uma pausa para bocejar e coloquei os braços acima da cabeça para esticar os membros: — Me acordar?

Eu não a tinha ouvido se levantar, mas um momento depois ela caiu na cama ao meu lado, ao cruzar os braços sob a cabeça. — Não quero sair do quarto.

Não foi uma resposta específica, porém o motivo era óbvio. Ela não queria encarar Micah. No entanto, eu não sabia o que dizer a ela – eu ainda me recuperava do choque. — Admita — eu provoquei, por falta de uma resposta melhor — você só quer ficar na cama comigo o dia todo.

Genevieve bufou divertidamente, ajeitando-se para que seu queixo ficasse apoiado nos braços e ela estivesse a olhar para a cabeceira da cama em vez de olhar para mim. — Isso seria exatamente o que você está pensando agora — comentou ela sarcasticamente.

O canto da minha boca se contraiu em um sorriso, entretanto eu a observei cuidadosamente enquanto perguntava de maneira séria: — Você se arrepende?

Ela respirou fundo, virou a cabeça para me olhar uma vez mais e a sacudiu suavemente. — Só estou preocupada que ele não me perdoe por isso.

Houve um momento em que achei que Genevieve jamais me perdoaria, mas me perdoou, e ela e Micah tinham uma história muito mais próxima do que a nossa. — Ele vai perdoar — falei a ela com certeza. — Talvez leve algum tempo, mas ele vai.

Ela deu um sorriso de agradecimento e passou a me observar em silêncio por alguns minutos. Durante esse tempo de quietude, ela se aproximou para traçar o canto de minha boca com a ponta do dedo, onde eu sabia que tinha aquela linha de riso. Algo nela havia mudado ontem. Eu não sabia dizer exatamente o que era, ou o que significava, porém eu senti. Senti na maneira como ela me beijou. Na maneira como ela me olhava agora. Era como se eu tivesse puxado uma cortina para trás. Como se eu tivesse ultrapassado uma de suas infinitas camadas, e essa se tratava de uma camada importante. No entanto, nem mesmo essa mudança que experimentei me deixou confiante em meus limites. Eu podia abraçá-la quando ela quisesse. Eu podia tocá-la, beijá-la e abraçá-la, mas sempre fazia quando ela quisesse. Quase sempre somente quando ela instigava. Eu queria testar esses limites... Para ver se agora eu poderia tratá-la como eu sempre quis.

Então, estendi a mão até onde o dedo dela ainda passava sobre a linha e, ao pegar sua mão, levei-a aos lábios e depositei um beijo carinhoso nos nós dos dedos. Ela ficou a olhar para mim por um segundo, piscando, com os olhos a alternar entre os meus e a minha boca. Ela não afastou a mão, no entanto eu não tinha certeza se era o sorriso pouco visível em sua boca ou o medo em seus olhos que indicava melhor o que ela estava realmente a sentir.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora