52. Capítulo 16 - Gelado Até a Medula - 1ª parte

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Capítulo 16 – Gelado até a medula – 1ª parte


Riverside por Agnes Obel


Gelado até a medula


Genevieve


Flashback on – seis anos antes


— Ei, pai — eu cumprimentei meu pai com um sorriso e um abraço de olá, e depois joguei minha mochila na mesa da cozinha.

Notei que ele fazia alguma coisa em um eletrodoméstico novo, no entanto antes que eu pudesse questioná-lo sobre isso, ele perguntou: — Como foi o treino?

— Foi tudo bem — eu respondi e, quando eu subi para o balcão da cozinha, meu irmãozinho entrou correndo.

— Genevieve! — Gritou animadamente. — Você quer jogar PlayStation comigo?

Acenei com a cabeça de maneira alegre e desci, porém meu pai me parou antes que eu saísse: — Pelo menos tire suas chuteiras enlameadas primeiro, por favor — disse ele, ao apontar para trás na direção da porta da frente. Eu virei o caminho que ele apontou, e ele sussurrou atrás de mim: — E volte aqui muito rápido quando terminar.

Fiz o que ele me pediu e, assim que voltei para a cozinha, inclinei-me para trás no balcão ao seu lado. — Que coisa é essa? — Eu questionei, finalmente colocando a mão no pequeno aparelho que ele estava trabalhando.

— É um espremedor de sucos — ele respondeu, apontando para todos os legumes que tinha colocado no balcão do outro lado dele.

— Um quê? — Eu dei uma risadinha.

— Um espremedor de sucos — ele repetiu, rindo do vinco cético na minha testa. — Você bebe o suco de vegetais que ele produz para obter mais nutrientes mais rápido. É saudável.

— Eu sou saudável — eu garanti-lhe, certificando-me de estreitar os lábios com nojo quando me entregou uma xícara de um líquido verde.

— Não é para você — ele sussurrou, ao lançar um olhar deliberado em direção à sala de estar onde Micah estava.

Toda a vida dele meu irmãozinho tinha sido um pouco doente. Não havia realmente nada de errado com ele, de acordo com os médicos. Ele era apenas frágil. Pena que meu pai não tinha me contado isso antes de eu tomar um gole. Com o gosto amargo que se espalhou pela minha língua, quase me engasguei e coloquei a xícara no balcão para que eu pudesse dar tapinhas no meu peito calmamente.

— Estou tão feliz que isso não é para mim.

— Bem — meu pai murmurou de modo hesitante. — De certa forma é... — Levantei uma sobrancelha para ele em busca de explicação. — Eu já tentei, mas ele não vai beber. — E ele pegou a xícara, em uma tentativa de me entregar de novo. — Não, a menos que você possa convencê-lo.

Cheirei a bebida e quase me engasguei. — Isso pode matar a criança — eu ri.

Entretanto, ele não achou tão divertido quanto eu. — Gen, estou no meu limite — meu pai suspirou suplicantemente, massageando estressadamente as pontas dos dedos sobre os olhos. — Se ele faltar mais à escola porque está doente...

Permaneci quieta por uns instantes, como a perceber o que ele estava a insinuar. Tinha se passado oito anos desde a morte da minha mãe. O meu pai havia se recuperado tanto quanto eu pensava que se recuperaria, mas às vezes percebia que ser pai solteiro era mais difícil para ele do que ele deixava transparecer.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora