Capítulo 24 – Único Jeito de Ser – 2ª parte
Dugan
Foi tão premente que deve ter aparecido em minha expressão, porque Van se recusou a percorrer os degraus finais para o topo do telhado, mantendo as mãos apertadas ao redor das alças da escada até que eu dei alguns passos para trás. Quando ele finalmente subiu todo o caminho, ele fez um movimento para que eu seguisse novamente enquanto passava por mim. Ele me levou até o extremo oposto do telhado, onde montou quase uma dúzia de pequenas armadilhas com gaiolas. Havia apenas uma única gaiola que tinha um rato, apesar do fato de que cada um deles foi iscado com o que eu presumi ser carne de rato.
Ao ver o único roedor Van rosnou de frustração, uma das primeiras emoções que vi nele desde que chegamos ontem à noite, e ele pegou a gaiola por sua alça de metal. O rato era chocantemente enorme – a única razão que eu podia ver por ser tão grande era a falta de humanos exterminando as criaturas desde o surto – e quando Van pegou a gaiola ele instantaneamente começou a gritar com ele, exibindo seus dois longos dentes amarelos selvagemente. Van puxou um canivete de seis polegadas de sua calça jeans, estendendo a lâmina abaixo da gaiola e cuidadosamente alinhando-a com a barriga do roedor. Uma vez que ele tinha a ponta diretamente sob ela, sua mão disparou, perfurando a arma diretamente através do animal cinza, e a coisa gritou e chiou por quase trinta segundos antes de finalmente morrer.
Eu esperava que Van puxasse a faca imediatamente, mas em vez disso, ele caminhou até a borda do telhado atrás do prédio e segurou a gaiola sobre o chão abaixo de nós. Antes mesmo de me aproximar para ver o que ele estava a fazer, ouvi rosnados ferozes que vinham do beco. Em seguida, ele arrancou violentamente a faca do rato, observando com um olhar sem emoção enquanto o sangue escorria para as bocas famintas dos Ferais lá embaixo.
Engoli meu horror, dizendo a mim mesmo que precisava paralisá-lo para dar a Kara o maior tempo possível. — Você faz isso todas as vezes? — Seu queixo se ergueu com o menor dos acenos orgulhosos. — Por quê?
— Os mais espertos vêm todos os dias — respondeu de maneira calma. — Quando preciso, fisgo um e trago para cima. Isca para mais ratos. Comida para a besta.
— O cachorro está imune? — Perguntei em choque. — Ele não fica doente? — Van balançou a cabeça. Mesmo que seu raciocínio fizesse sentido, ele não se afastou como se tivesse medo de vê-los brigar pelo sangue que fornecia, e puxou sua faca para fora do rato como se amasse o som arrepiante que fazia. Havia algo de sinistro em seu prazer não revelado. — Há quanto tempo você mora aqui?
Van não respondeu imediatamente, pois estava preocupado em se concentrar para espremer o último dos fluidos do rato. Quando ele terminou isso e enquanto limpava a lâmina de sua faca com um lenço sujo, ele respondeu: — Quatro anos.
— E Nam... — Eu parei, lembrando que Van havia me dito que a japonesa não tinha nome. Ele sabia o que eu estava prestes a dizer, e havia um lampejo de fúria em seus olhos azuis fantasmagóricos. — E a garota? — Perguntei apressadamente, esperando que ele não agisse com essa raiva, ou que não descarregasse em Namiko por conversar comigo.
Ele me encarou por um bom minuto, com uma expressão atenta e pensativa. — Três.
— Você viu muitos viajantes passarem por aqui? — Continuei, em uma tentativa de puxar conversa com a finalidade de ganhar tempo para Kara. Ele assentiu com a cabeça em concordância. — Você conversa com eles?
— Sim.
— Algum deles já mencionou um acampamento no leste? — Questionei curioso, esperando que ele pudesse validar o boato. — Na mata.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caronte Atraca À Luz Do Dia
General FictionHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...