175. Capítulo 58 - Os Acidentes São o Paraíso - 2ª parte

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Capítulo 58 – Os acidentes são o paraíso – 2ª parte


Genevieve


Dei um passo à frente, cambaleei de exaustão e de súbita tontura. Eu não dormia há duas semanas. Isso não era real. Tratava-se de uma alucinação, porque ela estava morta. Ou talvez eu estivesse morta. Talvez o Caçador tivesse cravado seus dentes e terminado mais rápido do que eu pensava, com menos dor do que eu havia previsto.

Ela deu alguns passos em minha direção e, quando a alcancei, levantei uma mão trêmula. Tudo estava lá. A linha de riso. A cicatriz que eu havia colocado em sua testa. A que Kellan havia colocado ao dar um soco em sua bochecha. Uma cicatriz mais recente e horrível em seu pescoço. Não era real. Se eu a tocasse com meus dedos trêmulos não haveria nada lá, eles cairiam através dela e eu descobriria que era tudo uma mentira e morreria porque meu coração, minha vontade e meu espírito estavam quebrados.

Eu não conseguia me obrigar a fazer isso. Não conseguia encontrar coragem para tocá-la porque não desejava saber. Se eu finalmente tivesse me quebrado e não fosse real eu não me importava, eu queria que durasse.

Quando percebeu que eu não podia fazer isso, ela se aproximou com cuidado.

Sua mão encostou nas costas da minha e ela a levou até a bochecha. E ela era sólida. Ela era macia e quente. Ela estava viva. E, de uma só vez, senti confusão, tristeza, medo, alegria e alívio. Meus olhos se encheram de lágrimas pela primeira vez desde que parti, e eu desabei. Solucei tão violentamente de cansaço e de emoção que desabei contra ela, totalmente incapaz de me manter em pé.

Os braços dela seguraram meu peso. Eles se fecharam ao redor de minha cintura e ela parecia tão real. — Tudo bem — ela sussurrou suavemente. — Está tudo bem. — Com o maior cuidado possível, ela nos abaixou até o chão e, enquanto se sentava, meu rosto caiu em seu colo e eu continuei a soluçar.

— Você está morta. — Eu estava a engasgar com tantas lágrimas que mal conseguia falar. — Mate-me — eu implorei. — Se você não é real, por favor, me mate. Não aguento mais. — Meus ombros tremeram e eu respirei com dificuldade apenas para dizer: — Não posso aguentar isso.

— Dê-nos um pouco de tempo — pediu Echo em voz baixa, e passos recuaram porta afora. — Genevieve. — Quando o outro recém-chegado desapareceu, senti o peso dela contra minhas costas. — Sou eu. — Ela se mexeu sobre mim enquanto eu chorava em suas pernas. — Você me sente. Eu estou aqui.

— Eu estou morta. — Minha cabeça balançou em completa negação, mais lágrimas encharcavam sua calça cargo. — Deixei o Caçador me morder e agora estou morta.

Com isso, ela se endireitou novamente e, quando as mãos dela encontraram meu rosto, ela cuidadosamente me endireitou também. Encontrei seus olhos encharcados com os meus, tão aliviada por vê-los depois de tanto tempo.

— Você não está morta — afirmou ela, ao afastar uma lágrima fresca da minha bochecha. — Eu não estou morta. — Sua testa encostou na minha, soltando uma lágrima quando ela fechou os olhos. — Eu estava procurando por você há oito meses para lhe dizer isso. E encontrei você.

Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia nem mesmo acreditar completamente nisso. Então, abracei-a e enterrei meu rosto em seu pescoço, e ela me deixou chorar. Ela me deixou chorar oito meses de tristeza e de desolação. Permitiu-me chorar um minuto para cada semana que passei vazia e quebrada. Vinte minutos. Trinta. Encharcava sua pele e sua camisa até que o choro diminuísse e que eu pudesse finalmente respirar uma vez mais.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora