Capítulo 52 – Sombra quente – 1ª parte
Warm Shadow de Fink
Sombra Quente
Echo
Ao entrar no refeitório para o almoço, olhei para a multidão de soldados e de civis. Todos do acampamento se encontravam aqui para comemorar o que o Doutor Issa havia descoberto com a amostra que trouxemos para ele ontem. Durante anos eu não acreditei em uma cura, mas tudo o que sua pesquisa vinha provando repetidamente era que os Caçadores não eram tão contagiosos. Quanto mais um parasita evoluía, menos capaz ele era de transmitir a infecção. Era a sua própria cura, e Genevieve havia reservado uma refeição extra em todo o acampamento para dedicar à descoberta. Só que Genevieve não estava em lugar nenhum.
Saí do refeitório e levei meu rádio aos lábios. — Genevieve?
Houve um momento de estática antes de dizer: — Estou ouvindo. Câmbio.
— Onde você está? — Perguntei.
Ela só respondeu 'na casa', mas eu sabia exatamente o que ela queria dizer. Afastei-me do refeitório e andei por ruas vazias até chegar ao conjunto habitacional. Abri a porta azul da frente devagar, mal enfiando a cabeça para não incomodá-la se ela estivesse de mau humor. Esse foi o único motivo que me ocorreu para que ela não quisesse comemorar. No entanto lá estava ela, na ilha da cozinha, com seu rifle espalhado em pedaços no balcão à sua frente, parecia perfeitamente calma.
— O que está fazendo? — Eu perguntei, ao fechar a porta atrás de mim.
— Limpando meu rifle. — Ela segurou uma peça com as mãos sujas e cobertas de óleo e sorriu para mim em sinal de saudação enquanto eu largava minha mochila perto da porta.
— Por que você não está no almoço?
Em vez de me responder, ela me acenou. — Venha cá.
Fui até seu lado e, quando cheguei lá ela pegou minha mão, direcionou-me para trás dela e puxou meus braços para envolvê-los em sua cintura. Depois de prendê-los em sua barriga, ela voltou a limpar o cano da arma, ainda sem responder à minha indagação. Quase me esqueci de que havia feito uma pergunta por causa do barulho do meu coração. Eu achava que meus sentimentos por ela não poderiam ficar mais fortes, mas então ela continuou a fazer coisas assim, e eu continuei a descobrir que estava errada. A sensação foi tão boa que aninhei meu rosto em sua nuca, perdendo-me em seu calor.
— Genevieve — eu sussurrei depois de um minuto. Ela cantarolou em sinal de reconhecimento. — Por que você não quer comemorar?
Seu tronco se ergueu sob meus braços com uma respiração profunda, e suas mãos pararam de roçar no metal. — É... não é a cura que eu esperava.
— Você está desapontada — eu percebi, em estado de choque.
— Eu sei — ela reclamou, voltando a esfregar mais furiosamente do que fazia — é terrível.
Estendi a mão para cessar o movimento de sua mão, para acalmá-la, porque essa era eu. O mesmo eu que nunca havia acreditado em uma cura e o mesmo eu que nunca a julgaria por isso. — O que há de decepcionante nisso?
Ela colocou o barril no chão e virou lentamente a mão para deslizar os dedos entre os meus. — Todos nós perdemos muito — respondeu ela, e seu queixo caiu com visível desânimo. — Pode levar décadas até que não haja mais Ferais contagiosos. Acho que, não sei, eu gostaria de algo imediato. Não posso perder mais nada.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
Ficción GeneralHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...