100. Capítulo 33 - Caleidoscópio - 2ª parte

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Capítulo 33 – Caleidoscópio – 2ª parte


Echo


Ela abriu a boca para dizer algo, parecia mais chocada do que eu me sentia, mas nada saiu, e eu já me afastava. Caminhei até a cerca, olhando para Fort Mayor atrás dela e relutante em deixá-la ver a fúria ferida em meu rosto. Essa nova razão fazia quase tanto sentido quanto a vingança. Essa não era a primeira vez que ela falava de Hayden, e ela me disse antes de pensar que parte de mim ainda existia. Talvez ela estivesse a fazer isso por ambos os motivos, e isso era pior do que apenas um, porque talvez ela tivesse o poder de trazer Hayden de volta, e então teria sua vingança porque a maneira como ela constantemente me tratava seria devastadora para Hayden.

— Isso não é — disse Genevieve, mas depois de uma pausa ela não terminou. Ela não queria mentir para mim. Arrisquei um olhar de volta para ela, apenas para descobrir que ela parecia completamente confusa. — Isso nunca passou pela minha cabeça. — Eu não sabia como responder – isso poderia não ter passado pela cabeça dela, no entanto ela não negou – então fiquei ali sem dizer nada. Por fim, ela perguntou: — Seria a pior coisa para você admitir que ela ainda está aí dentro?

Soltei um suspiro que saiu como um gemido meio frustrado. — Se por algum milagre estranho eu ainda pudesse agir de forma convincente como a garota que você costumava conhecer, você gostaria de estar comigo, então?

Seu olhar se afastou do meu, me alertando como sempre fez para o fato de que ela não me daria uma resposta real. — Não sei. — Por isso, foi uma surpresa quando, momentos depois, ela acrescentou de maneira decidida: — Provavelmente não.

Como eu tinha feito antes, e mesmo que ainda estivesse irritada, eu achei que agora era a hora de desistir. Eu tinha que continuar a escolher minhas batalhas. Toda essa conversa foi doída e não ia me levar a lugar nenhum. Não haveria progressos a serem feitos.

Para desviar as coisas, fui até a mochila que havia deixado cair a alguns metros de distância e tirei o novo maço de cigarros que havia encontrado enquanto pegava as luvas de Genevieve. Ela parecia surpresa quando eu não respondi à sua última declaração, mas quando lhe ofereci um cigarro ela tomou um com um sorriso consciente e agradecido.

— Do que você tem medo, se não é de mim? — Perguntei, ao reencontrá-la na árvore e ao encostar-me nela mais uma vez. — Qual é o seu maior medo?

— Bem, eu não tenho medo de morrer — começou por enumerar. — Para ser honesta, às vezes acho que pode ser mais fácil do que isso. — Nisso, olhei para ela preocupada e, ao ler a expressão no meu rosto, ela deu uma risadinha. — Não sou suicida. Só estou dizendo. — Em seguida, ela deu de ombros. — Acho que meu maior medo é ficar sozinha. — Eu acenei com a cabeça e ela virou-se para mim com intensa curiosidade. — Qual é o seu?

Eu sorri para seu entusiasmo. — Por que você parece tão incrivelmente interessada de repente?

— É parte do mistério — ela respondeu prontamente. — Você ficou sozinha, então não é isso. Você viveu com invasores, e tenho certeza de que encarou a morte cara-a-cara mais vezes do que eu sei. Você não pode ter medo de morrer. Você tinha... — Genevieve hesitou por um momento antes de continuar cautelosamente: — Valerie... e sua família, e agora eu. Você não tem medo da perda ou do amor. Então, o que é?

Eu respirei um pouco de fumaça, e soltei antes de dizer a ela de forma honesta: — De ser mordida. — Para tentar aliviar um pouco o clima, adicionei provocativamente: — Ou ser psicanalisada.

Genevieve deu uma risada quase apologética e, em seguida, inclinou a cabeça para mim. — Você nunca age com medo em torno de Ferais.

— Não quer dizer que eu não sinta — respondi simplesmente.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora