Capítulo 46 – Os dois pés do outro – 1ª parte
Bury Now de Crywolf
Genevieve
Os Dois Pés do Outro
Meus olhos examinaram o teto, vagando na direção da cama de Echo e depois diretamente acima de mim uma vez mais. Levantei um pouco minha cabeça para ver se ela ainda dormia ou não, mas seu rosto estava enterrado no travesseiro e era impossível saber. Ainda era muito cedo pela manhã, entretanto já fazia pelo menos uma hora que eu havia acordado. Entre me perguntar se Echo estava acordada e dizer a mim mesma que eu deveria me levantar e começar o dia, foi impossível voltar a dormir. Respirei fundo para indagar a Echo se ela estava acordada, no entanto, antes de fazer o questionamento, hesitei, sem saber se ela realmente queria ou não falar comigo.
Foram necessárias mais algumas tentativas até que finalmente consegui dizer: — você está acordada? — em um sussurro cuidadoso.
Houve um zumbido de confirmação, e tudo ficou quieto novamente. Não era um murmúrio cansado, do tipo que me fazia saber que ela ainda pudesse estar a tentar dormir. Era um zumbido relutante, como se ela não soubesse se queria responder. Levantei-me, dando uma olhada cautelosa para ela e, quando vi que ela não havia se mexido, fiquei de pé. Fui à ponta dos pés até a cama e me abaixei de barriga para baixo ao lado dela, sem saber o que fazer ou o que dizer em seguida. Eu só não queria mais me sentir constrangida.
— Você ainda está chateada comigo? — Eu murmurei, colocando as mãos sob o queixo.
Um de seus olhos se abriu e se fixou em mim. Depois de me observar por um momento, o outro se abriu e ela rolou para o lado. — Eu não estava chateada. — Ela puxou o cobertor debaixo de mim para que pudesse trazê-lo até o pescoço e, por baixo das cobertas, pude vê-la encolher os ombros. — Não estou acostumada a ficar em conflito por querer você. — Eu queria lhe dar as boas-vindas ao clube, porque conflito era tudo o que eu conhecia. Mas mantive minha boca fechada e, um momento depois, ela acrescentou: — E não estou acostumada com você estar tão... disposta.
Meu olhar se desviou e eu me ocupei, de modo ansioso, com um fio perdido no cobertor embaixo de mim. — Você me pegou de bom humor, só isso.
Echo soltou um suspiro instantâneo. — Pare de inventar desculpas.
— Pare de me encurralar — eu respondi. — Eu não teria que lhe dar respostas que você não quer ouvir se você não fizesse perguntas que eu não posso responder.
— Não pode? — Ela perguntou retoricamente — ou não quer?
Abaixei a cabeça de lado, encontrando seus olhos cinza esfumaçados novamente e dizendo de maneira suave: — O problema é que você acha que há uma diferença. — Eu não queria discutir.
— O que há nisso que é tão difícil para você?
— Pare de falar — eu avisei.
Echo apertou os olhos de frustração. — Então, eu não tenho permissão para perguntar nada a você?
— O que você quer de uma resposta, afinal de contas? — Eu perguntei evasivamente. Ela teria todas as respostas que quisesse se parasse de se preocupar com o que eu dizia. Ela teria tantas respostas se parasse de fazer perguntas.
— Eu não sei — ela respirou desanimada. — Você disse ao Micah que o escolheria, e temo que realmente o faça. — Ela deu de ombros mais uma vez sob os cobertores. — Eu só quero um motivo para me convencer de que você não vai escolher ele.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
General FictionHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...