89. Capítulo 29 - Como Eu Sou - 3ª parte

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Capítulo 29 – Como Eu Sou – 3ª parte


Echo


Genevieve se levantou do chão, finalmente ficou de pé e se recuperou de seu estupor. Quando ela olhou para mim, não consegui mais me conter e comecei a chorar. Ela não parecia brava. Tampouco parecia preocupada ou triste. Seu rosto estava em branco, completamente sem demonstrar ou mesmo sentir qualquer emoção. — Há muita gente na cabine médica — ela finalmente respondeu. — Leve-a para a tenda de reuniões. — Ao virar-se para alguém que estava por perto, ela ordenou: — Vá buscar a April e leve-a para lá.

Blake me carregou até a tenda de reuniões e, depois de me colocar em uma cadeira à mesa, Genevieve disse a ele para procurar pelo Capitão. Quando ele saiu, estávamos apenas Genevieve e eu, sozinhas em um silêncio tenso. Ela nem sequer olhava para mim, entretanto eu estava desesperada demais para me importar. De qualquer forma, eu mal conseguia vê-la por causa das lágrimas em meus olhos.

No entanto, o Capitão estava chegando, e essa constatação trouxe outra. Eu ainda estava em liberdade condicional. Era por isso que Genevieve não queria olhar para mim? Porque eles provavelmente iriam me rotular como muito perigosa e me matar de qualquer maneira, e eu tinha acabado de assassinar Kellan por nada. Sabedora de que minha luta ainda não havia terminado, forcei-me a parar de chorar. Afastei a culpa espantosa para poder apresentar meu caso. Assim que as lágrimas se foram de meus olhos e eu pude enxergar melhor, olhei para Genevieve novamente.

Quando ela percebeu que eu estava a olhar para ela, virou as costas, mas não antes de eu vislumbrar um traço de água a escorrer por sua bochecha. Eu queria dizer algo a ela, porém, no momento em que abri a boca ouvi vozes do lado de fora da barraca e, ao saber que havia alguém por perto, Genevieve limpou a umidade do rosto.

Foi April quem entrou e, quando me viu, correu para lá preocupada. Ela observou minha bochecha inchada e imediatamente abriu a pequena caixa de suprimentos que havia trazido com ela.

— Acho que você não precisará de pontos dessa vez — disse ela suavemente. — Você bateu nele? — Meus olhos se encontraram com os dela, preparando-me para ficar na defensiva diante da pergunta ou para evitar que eu desmoronasse novamente. Ela deve ter percebido, porque gentilmente pegou minha mão. — Deixe-me ver. — Por causa da ardência e do constante latejar em minha bochecha, eu não havia notado a dor em meu pulso até que April apontou. Ela cutucou os ossos e cuidadosamente dobrou meu pulso e meus dedos enquanto perguntava qual era a intensidade da dor. Com base nisso, ela determinou que era apenas um machucado e fez uma compressa fria para colocar gelo.

Enquanto ela pegava gaze, álcool e pomada para minha bochecha, o Capitão chegou e se manteve em silêncio ao lado de Genevieve para esperar até que eu fosse atendida. Eu me encolhi e chupei o ar por entre os dentes quando o álcool tocou a ferida em meu rosto. As sobrancelhas de April se franziram em sinal de desculpas, mas ela continuou a trabalhar diligentemente até que o corte estivesse enfaixado. Em seguida, ela preparou mais uma bolsa de gelo e me disse para mantê-la em meu rosto para ajudar a diminuir o inchaço.

Os três únicos que restavam na tenda a viram sair e, então, tudo ficou em silêncio por um minuto. O Capitão ficou ali a me estudar pensativamente e, depois de algum tempo, foi até a mesa e se sentou à minha frente. Ele continuou em silêncio em seu assento. Ele coçou a barba várias vezes, apertou a ponta do nariz e ajustou o chapéu verde-escuro na cabeça.

— Genevieve — disse ele por fim, ao puxar uma cadeira ao seu lado. — Venha se sentar. — Ao ouvir a instrução ela finalmente olhou para mim, e foi com relutância que vi que ela se aproximou e se acomodou ao lado dele. Foi só depois que ela ficou confortável por quase mais um minuto, que o Capitão voltou seu olhar do tampo da mesa para mim. — O que aconteceu, Echo?

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora