91. Capítulo 30 - Nenhum Homem é Uma Ilha - 2ª parte

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Capítulo 30 – Nenhum Homem É Uma Ilha – 2ª parte


Dugan


— Não diga a Kara — eu murmurei, a colocar a lata aberta no chão em frente ao focinho. Foi quando ouvi um bufo de divertimento, e quando olhei para ele, Namiko estava rindo silenciosamente. — Momento de fraqueza — disse-lhe com uma risada.

Ela se levantou e escovou seus longos cabelos pretos atrás das orelhas antes de envolver os braços em torno de seus joelhos. — Não vou contar — disse timidamente.

— Não consegue dormir? — Perguntei de maneira amigável, vendo isso como uma oportunidade de tirá-la de sua concha, porque ela tinha acabado de falar comigo com mais vontade do que nunca.

Ela balançou a cabeça em negação, explicando em um murmúrio: — Pesadelos.

— Oh — eu respondi, incomodado apenas por pensar que eu poderia deixá-la desconfortável para se debruçar sobre isso.

Wolf já tinha terminado de lamber todo o interior da lata, e ainda batendo os lábios ele baixou a cabeça de volta para o meu colo. Namiko sorriu para a cena, e eu vi seus olhos vagarem para Kara. — Você cuida dela?

Fiz uma espécie de meio aceno de cabeça, sentindo que Kara merecia muito mais crédito do que isso. — A gente cuida um do outro. — Namiko franziu os lábios com compreensão, mas querendo continuar falando com ela eu adicionei: — Eu não tenho por quem viver há anos. Fui somente eu. Você já teve filhos? — Ela balançou a cabeça em negação outra vez. — Encontrei Kara, e me esqueci como era se importar com algo mais do que você se preocupa consigo mesmo.

— É por isso que você o alimentou — disse Namiko com conhecimento de causa, ao acenar para Wolf. Eu soltei uma risada suave e dei de ombros, concordando. — Ela tem sorte — começou timidamente — por ter encontrado um estranho que se doaria tanto.

Fiquei tenso e em um canto da boca exibi um meio sorriso agradecido, mas não sabia como reagir, porque minha mente fazia uma conexão imediata com a situação dela. Van tinha que ter sido um estranho quando eles se conheceram, e ela estava longe de ter sorte. Namiko parecia entender a cautela por trás dos meus pensamentos, porque ela respirou fundo e soltou um suspiro lento e suave. A cada poucos segundos eu podia sentir seus olhos caírem sobre mim pensativamente, no entanto eu estava muito inseguro de mim mesmo para inclusive testar alguns limites, como olhar para ela por muito tempo.

Eventualmente, Namiko encontrou coragem para falar por conta própria. — Ele não fez isso. — Finalmente encontrei seu olhar, observando-a inquisitivamente. — O que você acha que ele fez. Eu posso ver isso em seus olhos quando você olha para mim.

— Sinto muito — eu pedi desculpas baixinho, preocupado com as minhas suposições sobre o abuso que sofreu.

— Está tudo bem — sua voz delicada me tranquilizou. — Ele nunca me obrigou a dividir a cama com ele. — Eu não sabia o que proferir, nem se ela queria ou não que eu dissesse alguma coisa. Então permaneci quieto, esperando que ela continuasse a confiar em mim o suficiente para prosseguir. — Às vezes — começou ela um minuto depois — eu queria que ele o fizesse. — Ela olhava diretamente para o chão, mas sua boca se contorceu de nojo quando ela disse isso, e eu tentei evitar deixar meu estado de choque transparecer. — Porque aí eu saberia o que ele estava recebendo. Faria mais sentido o fato de ele ter me mantido lá. — Os olhos de Namiko se encontraram com os meus por um breve momento antes de se afastarem desajeitadamente. — Era mais aterrorizante para mim que todo o prazer que ele precisava era causar dor.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora