53. Capítulo 16 - Gelado Até a Medula - 2ª parte

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Capítulo 16 – Gelado até a medula – 2ª parte


Genevieve


Um clique metálico me acordou na quietude da manhã, e eu deitei tranquilamente por um segundo antes de me mover para ver se conseguia identificar o que era. Um momento depois, houve mais alguns barulhos, e eu sabia que Echo estava se algemando de volta à cama. Sendo tão desajeitada como era, ela deve tê-las deixado cair ao chão, e foi o que eu escutei no início.

Eu tinha acordado bem cedo na outra manhã e vi que ela tinha tirado as algemas à noite. Voltei a dormir, acordei um pouco mais tarde e descobri que ela as tinha colocado de volta. Eu não tinha certeza de quanto tempo ela estava fazendo isso, no entanto isso foi há três noites, e eu acordava cedo todos os dias desde então para descobrir a mesma coisa.

— Não se preocupe com isso — eu disse a ela, e me virei na minha cama para encará-la.

Seus olhos estavam arregalados de susto, como se ela estivesse esperando que eu ficasse furiosa com isso, mas eu não consegui.

Talvez até uma semana atrás eu estivesse furiosa, no entanto a verdade era que ultimamente eu não tinha energia para ficar tão zangada com as pequenas coisas. Na maioria das vezes era mais fácil não dar a mínima.

Ela havia congelado quando me virei para enfrentá-la, e sua mão pairou sobre as algemas, ainda preparada para se trancar. — Tem certeza?

Hoje já era um daqueles dias em que doía só de olhar para ela, então quando me virei de bruços para enterrar meu rosto no travesseiro murmurei: — Tanto faz.

Eu podia ouvir Echo soltar as algemas depois de um minuto inteiro, como se ela finalmente tivesse decidido que eu não estava de brincadeira. — O que você quer que eu faça com elas? — Disse ela, soando hesitante, sensível como sempre ao meu humor.

Respondi sem levantar a cabeça: — Coloque-as na minha mochila.

— O quê? — Perguntou ela, já que o travesseiro abafou minhas palavras irreconhecíveis.

Levantei a cabeça o tempo suficiente para dizer bruscamente: — Basta colocar na minha mochila — e então baixei meu rosto novamente.

Ela desceu da cama e se mexeu um pouco, porém depois que ela colocou as algemas na minha mochila e a largou de volta no chão as coisas ficaram silenciosas, como se ela estivesse apenas parada ali. — Você está se sentindo bem? — Eu não respondi. Por um lado, não gostei do fato de ela parecer genuinamente preocupada. Nem queria explicar que ela era a causa do meu mau humor. — Genevieve? — Ela me pressionou, mas mesmo assim eu não dei resposta. Ela esperou mais um minuto antes de perguntar uma vez mais: — Você está doente?

Depois de seu questionamento ela tocou meu ombro, em uma tentativa de ser reconfortante ou em uma tentativa de chamar minha atenção. — Não — eu respondi com profunda irritação, e quando me empurrei com raiva ela afastou a mão, assustada com meu movimento repentino. — Não estou doente — disse para ela, ao enfiar os pés nas botas, sem me preocupar em amarrá-las antes de vestir a camiseta. Uma vez que a trajei, coloquei meu rifle sobre meu ombro, peguei meus utensílios de alimentação e saí correndo da barraca.

Mesmo já sendo de manhã ainda estava muito frio. Frio o suficiente para que, se eu pudesse suportar ver o rosto de Echo agora, eu teria voltado para a barraca para pegar meu casaco de inverno. Em vez disso, puxei o capuz do meu moletom cinza sobre minha cabeça, agradecida pelo leve calor que ele oferecia.

Na verdade, fiquei surpresa que Echo ainda não tivesse me alcançado, visto que sempre que eu saía em disparada ela geralmente me seguia. Nem ela tinha me alcançado ainda quando cheguei à área do café da manhã. Entretanto eu não achava que ela demoraria muito mais, já que eu não tinha dito a ela que ela poderia ficar sozinha, e eu sabia que ela ainda ficava muito nervosa sempre que eu lhe dava um pouco de liberdade.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora