Capítulo 37 – Difícil de ser Suave – 2ª parte
Genevieve
Baixei minhas mãos do rosto de Echo para as dela. Ao direcioná-las dos meus quadris para o botão da minha calça jeans, senti um traço de sal em seus lábios. Seus dedos ficaram tensos sobre o botão, preparando-se para abri-lo, mas quando minhas mãos voltaram ao seu rosto, senti a umidade em suas bochechas. O sal foi registrado. Os dedos dela congelaram ao mesmo tempo em que meus lábios congelaram, e eu me afastei do beijo.
— Não posso — ela sussurrou, outra lágrima caindo de seu olho. Ela voltou a colocar as mãos nos meus quadris para me afastar dela, e então se levantou. — Ela se foi, Genevieve. — Ela fungou e passou por mim. — Apenas aceite isso.
Fiquei tão perplexa que nem consegui olhar para ela. Foi a primeira vez que ela me recusou, e fez isso quando eu estava prestes a dar a ela o que ela mais queria, e ela não tinha feito isso porque estava furiosa. — Quando você vai parar de mentir para si mesma? — Questionei antes que ela saísse pela porta.
Não houve resposta e, quando me virei, descobri que ela havia congelado com os dedos ao redor da maçaneta. — Quando você vai? — Ela disse sem olhar para mim, e então ela se foi. O que ela não entendeu foi que eu não estava a mentir para mim mesma. Eu sabia com perfeita clareza o que eu começava a sentir, o que eu tinha acabado de sentir, e eu sabia exatamente o quão pouco importava. Também percebi pela primeira vez que, de certa forma, ambas estávamos erradas em relação à Hayden. Ela não foi embora como Echo dissera, mas também não houve uma separação, não foi uma coisa ou outra. Foram as duas coisas. Uma fusão. Eu nunca poderia ter Hayden sem Echo, porque não poderia haver Hayden sem Echo. Eram apenas nomes, partes de uma personalidade que contribuíam para um todo. O que Echo havia dito quando contei a ela sobre a separação estava certo.
Havia apenas ela. Porém as partes dela para as quais Hayden contribuiu, as partes profundamente vulneráveis, as partes inocentes, Echo raramente deixava isso transparecer. Soltei um suspiro que cortou o novo silêncio que enchia a residência. Recuperei minha mochila do balcão da cozinha, procurei pelo resto da casa por suprimentos sozinha. Eu não sabia o que esperar de Echo quando finalmente saísse. Não tinha certeza se ela ainda estaria a chorar ou se estaria brava comigo. Ela estava encostada na parede ao lado da porta da frente e, quando eu saí ela respirou fundo, o que forçou toda a emoção que eu podia ver em seu rosto.
— Você, hum — eu comecei, de repente timidamente. — Você quer falar sobre isso? — Tudo o que ela fez foi balançar a cabeça sem olhar para mim. Fiquei um pouco aliviada com isso, visto que sempre que nós falávamos sobre algo, isso significava que eu tinha que machucá-la. — Você quer passar para a próxima casa?
Com o consentimento dela, começamos a subir a calçada em direção à casa ao lado. Foi tão tranquilo enquanto nós vasculhávamos os vários quartos. Echo não proferiu uma palavra sequer. Eu não tive mais a impressão de que ela estivesse chateada comigo por causa da outra noite. Não era um silêncio furioso. Eu não conseguia me expressar em palavras, mas me fazia sentir mal. Não do tipo culpada, mas sim do tipo que foi depois que ela teve que atirar naquela garota invasora. Gostaria de oferecer conforto. Só que eu não podia, porque eu era a causa do desconforto.
Tinha sido tão silencioso o tempo todo em que nós estávamos a olhar pela casa, que me pegou completamente desprevenida quando os braços de Echo envolveram minha cintura por trás. — É muito importante que você não me afaste — ela sussurrou com urgência.
— Por quê? — Eu perguntei baixinho, uma mistura de medo e de curiosidade se formando em meu interior.
— Vire-se — instruiu ela. Virei-me em seus braços, respirando sem palavras quando seus lábios se conectaram com a carne sensível abaixo da minha orelha. — Não aja de forma surpresa, seja normal. — Ela beijou a parte inferior do meu pescoço. — Alguém tem nos seguido.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
General FictionHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...