Capítulo 31 – No Limite – 1ª parte
Do I Wanna Know? de Arctic Monkeys
No Limite
Echo
Com um gemido frustrado, joguei a bola de neve embrulhada em um pano que segurava no chão. Eu quase não tinha dormido a noite toda por causa do latejar ardente na minha bochecha – o lado em que eu tinha sido atingida era o mesmo que eu gostava de dormir. Segurar gelo ajudava a aliviar a dor, mas era quase impossível cochilar enquanto eu mantinha a bola de neve no lugar. Já era de manhã e permanecer deitada começava a ficar exaustivo, então me esforcei para ficar de pé. Genevieve ainda dormia e, em uma tentativa de não acordá-la, coloquei de maneira silenciosa meus pés em minhas botas.
Consegui sair da barraca sem ser notada com minha bolsa de gelo improvisada na mão, então caminhei em uma direção aleatória, concentrando-me nos sons e nos cheiros do acampamento que despertava, a fim de que eu não pensasse na frieza contra minha bochecha. Continuei a vagar, trocando de mãos a cada dois minutos quando meu braço se cansava de permanecer erguido, até que finalmente me vi no estacionamento de veículos.
A princípio parecia que não havia ninguém por perto, entretanto, após uma inspeção mais minuciosa avistei Garcia perto de um automóvel, trabalhando na parte plana de metal do carro. Fiquei a olhar de longe para ele por um minuto, debatendo se eu deveria ou não ir até lá. Ele tinha sido companheiro de batalha de Kellan por anos, e a última coisa de que eu precisava era de mais problemas. Porém eu sempre gostei do Garcia, e parte de mim sentia que depois de ontem eu deveria dizer algo para ele.
— Ei — eu o cumprimentei timidamente quando cheguei até ele, assim que tirei a bolsa de gelo do meu rosto. Tão logo enxerguei o que ele estava a fazer aqui, fiquei feliz por ter vindo. Ele estava a pintar algo na lateral do veículo. Eu nunca soube que ele fosse um artista.
Ele percebeu pela minha voz que era eu sem ter que desviar o olhar, então mergulhou seu pincel grosso na lata de tinta vermelha e continuou a preencher a grande bandeira americana. — Oi. — Eu não tinha certeza do que dizer a ele agora, e depois de um minuto de eu apenas me manter parada lá, ele perguntou baixinho: — Você precisa de alguma coisa?
— Genevieve me contou que você está mudando de pelotão — eu observei, ao repetir algo que ela havia me dito ontem à noite. Garcia simplesmente assentiu, então eu adicionei com remorso: — Sinto muito.
Ele permaneceu em silêncio enquanto traçava cuidadosamente uma linha curva da bandeira agitada, e então ele respondeu de forma categórica: — Não, você não sente.
Ele até que estava certo. Eu ainda me sentia culpada, entretanto não me arrependia mais. Fiz o que achava que tinha que fazer: — Pela sua perda, eu falo.
Terminada a bandeira, ele colocou a lata no chão e finalmente se virou para olhar para mim. Era a primeira vez que ele me viu desde ontem, e quando avistou a ferida inchada na minha bochecha seus olhos se arregalaram um pouco, e sua boca se curvou para baixo quase simpaticamente. — Kellan era um bom amigo — admitiu ele com um leve encolher de ombros — mas todos nós vimos o jeito que ele estava agindo com você. — Os olhos dele passaram por minha bochecha mais uma vez antes que ele se inclinasse para enxaguar o pincel em uma lata de água. — Eu estava com um grupo, anos atrás, antes de encontrar esses caras. Nenhum de nós realmente se dava bem. Brigávamos uns com os outros. Brutalmente. Constantemente. — Depois de enxaguar a tinta vermelha, ele secou as cerdas com um pano enquanto continuava, de maneira hesitante: — Eu apenas... Eu entendo, você sabe, Echo. Esse mundo muda você. Ele não lhe deu escolha.
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Caronte Atraca À Luz Do Dia
Fiction généraleHISTÓRIA PARA PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS! Sinopse Seis anos se passaram desde que uma infecção transformou a maioria da população em criaturas ferozes e semelhantes a zumbis que caçam durante o dia, forçando os vivos a um estado noturno de existênc...