138. Capítulo 45 - Homem Tão Pequeno - 1ª parte

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Capítulo 45 – Homem Tão Pequeno – 1ª parte


After The Storm de Mumford & Sons


Homem Tão Pequeno


Kara


Eu sonhava com eles, assim como todas às vezes que adormeci desde Oklahoma: Namiko e Wolf. Eu podia sentir tudo isso, o medo uma vez mais, meu coração partido em toda vez que Jed me batia. Às vezes, como agora, eu via a dor no rosto de Dugan e sentia o que ele fazia. Parecia real e eu acordei ofegante, levando a mão ao meu peito por alguns momentos antes de reconhecer que não havia realmente nenhuma dor. Não fisicamente. Era por isso que eu sequer havia dormido.

Ainda havia luz solar suficiente do último dia que estava a morrer para que eu pudesse ver a cela onde Dugan dormia. Levantei-me para examiná-lo e atravessei a cela até sua cama. A respiração dele se mantinha rápida, porém tão fraca que a única razão pela qual eu podia dizer que ele ainda respirava era por causa dos movimentos acelerados de seu peito.

As veias no pescoço dele se mostravam mais salientes do que o normal, revelando que a respiração não era a única coisa que estava acelerada. O pulso dele estava acelerado, e o fato de haver uma tonalidade azul clara em sua pele escura era assustador.

Não sei o que achei que estava errado, no entanto a ideia de que eu poderia perdê-lo também fez meus olhos lacrimejarem. — Dugan? — Eu sussurrei, ao bater em seu braço. — Dugan. — Nada. — Dugan? — Falei um pouco mais alto, em uma tentativa de afastar as lágrimas, em uma tentativa de não entrar em pânico ainda. — Dugan!

Os olhos dele se abriram e, quando respirou assustado, seu rosto se contraiu de agonia. — Não me assuste assim — ele gemeu, ao deixar os olhos se fecharem novamente.

— Você me assustou — eu reclamei, ao recuar para minha própria cama. — Você não quis acordar.

— Sinto muito. — Ele sorriu ao se desculpar e, em seguida, viu a expressão preocupada em meu rosto. — Estou bem, garotinha. — Ele tentou se sentar, mas só conseguiu chegar à metade do caminho antes de perder a força e de se deitar uma vez mais.

Em vez de dizer a ele que eu sabia o que acontecia, caminhei até ele e ofereci a mão para ajudá-lo a se sentar. — Você quer ir para aquele hospital logo? — Eu perguntei.

Ele pegou minha mão, grunhindo enquanto eu o puxava para cima. — Sim, e depois voltaremos para a estrada.

Olhei para a porta que dava para o escritório, meu estômago roncava de forma voraz. Desde a manhã passada nós tínhamos nos alimentado com a comida que Mal nos deixou, e eu já começava a morrer de fome uma vez mais. O fato de ela ter comida disponível me fez desejar que ela estivesse aqui, ou que chegasse em breve.

— Se a gente ver Mal novamente — eu comecei a questionar, no entanto Dugan imediatamente me lançou um olhar severo, ao encerrar a indagação antes que eu pudesse terminar.

Ele se sentia culpado por Namiko, como se a culpa fosse dele por não ter conseguido protegê-la. Ele me disse que eu era a única pessoa com quem ele queria se preocupar. Qualquer outra pessoa se tratava de uma distração, — "e se algo acontecesse com você, eu não conseguiria viver com isso". — O que ele não sabia era que havia um medo completamente diferente no fundo da minha mente. Ele piorava e, por mais que eu tentasse evitar reconhecer a possibilidade de que ele pudesse não sobreviver, isso me assombrava. Se nós saíssemos daqui, apenas nós dois e ele não sobrevivesse, eu estaria sozinha novamente. Ele não seria capaz de me proteger melhor se fosse embora, e agora que sabíamos sobre aqueles Ferais perseguidores...

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora