118. Capítulo 38 - Sob Nossos Pés - 4ª parte

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Capítulo 38 – Sob Nossos Pés – 4ª parte


Echo


Eu a segurei por horas, sem saber se eu já havia me afastado completamente ou se iria adormecer, até que, quando dei por mim, ela estava ao lado da cama no cinza pálido do amanhecer, com sua mão suavemente me sacudindo pelo ombro.

— Echo — ela disse baixinho. — Acorde.

Foi uma surpresa tamanha que rolei, totalmente acordada num piscar de olhos. Minha mente de imediato começou a examiná-la, avaliando como ela estava, se precisava de mais conforto. Ela parecia exausta. Havia marcas pesadas sob seus olhos, e eles ainda estavam um pouco vermelhos de tanto chorar. Suas bochechas também estavam um pouco rosadas, irritadas com a exposição de uma noite a lágrimas salgadas. Mas quando eu pareci assustada ao ser acordada, um canto de sua boca se contorceu com um sorriso divertido. Ela havia recuperado o controle de si mesma e, independentemente de estar a quebrar por dentro, conseguiu engarrafar tudo de novo.

— Posso ficar com isso? — perguntou ela, ao pegar o travesseiro embaixo da minha cabeça, sua voz ainda baixinha como se tentasse não me perturbar. — Estou fazendo as malas.

Sentei-me e ela pegou o travesseiro para colocá-lo no baú no chão. — Você precisa de ajuda?

Ela olhou ao redor da barraca pensativa, e então apontou para a cama. — O cobertor.

Tirei-o de baixo de mim e dei-a a ela, de pé, enquanto ela a dobrava no porta-malas. Meus braços se ergueram bem acima da minha cabeça, esticando-me para tentar trabalhar o cansaço do meu corpo. Enquanto minhas mãos ainda estavam no ar, Genevieve se aproximou de mim, e eu congelei de completo choque quando enrolou seus braços em minha cintura e enterrou seu rosto em meu pescoço.

Quase parecia que eu ainda dormia e sonhava, até que ouvi sua voz dizer: — Obrigada. — Certa de que aquilo era muito real, mesmo que eu ainda estivesse surpresa, abaixei meus braços, enrolando-os em torno de seus ombros para retribuir o abraço. — Pelo que você fez ontem à noite.

Fechei os olhos e coloquei minha bochecha contra a cabeça dela, saboreando esse momento enquanto duraria. — Eu sempre estarei aqui por você.

— Não estou falando apenas sobre isso — disse ela, ao recuar para encontrar meu olhar, mas sem se desvencilhar de mim. — April me contou o que você fez. Você assumiu o comando porque eu não estava pronta. — Ela afrouxou os braços e os trouxe para frente para colocar as mãos nos meus quadris. — Você deu um passo à frente. — Sua cabeça inclinou o suficiente para que ela apoiasse a testa contra a minha, e encheu meu estômago com uma enxurrada de borboletas. — Obrigada. — E ela me beijou.

Era isso que eu sempre quis dela: essa gentileza e essa sinceridade. Foi tão avassalador que tive que me lembrar de respirar. Meu coração disparava de forma descontrolada.

— Acho que me importo mais do que queria — eu admiti. Ela sorriu, não parecendo nem um pouco surpresa, mas não disse nada. Ela permaneceu ali, imóvel, parecia tão admiravelmente impressionada com o que eu tinha feito. Com uma timidez lenta, levei as mãos ao rosto dela, esperando que ela não se afastasse como normalmente fazia. — Você não precisa fazer isso, você sabe. — Houve raras ocasiões em que ela foi gentil comigo antes, no entanto, esse era um lado dela que eu nunca tinha visto. Ela ainda deixou meu polegar acariciar sua bochecha sem pestanejar. — Você pode dar o comando para outra pessoa.

— Eu tenho que fazer — ela discordou, ao estender a mão e pegar uma das minhas mãos na sua para trazê-la entre nós, mas não para que eu parasse de tocá-la. Era para que ela pudesse brincar com meus dedos, concentrando-se neles em vez de me olhar enquanto falava. Provavelmente para que eu não notasse como seus olhos ficaram lacrimejantes de novo. — Essas pessoas confiavam no Capitão, e ele confiava em mim. — Ela fungou, recuperou o controle alguns instantes depois e me olhou nos olhos mais uma vez enquanto piscava as lágrimas. — Se eu o der para outra pessoa e ela foder com tudo, vou sentir que a culpa foi minha por ter desistido. — Ela deu de ombros, passando a ponta dos dedos pelo comprimento da minha palma. — Pelo menos assim sei que estou fazendo tudo o que posso.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora