74. Capítulo 24 - Único Jeito de Ser - 3ª parte

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Capítulo 24 – Único Jeito de Ser – 3ª parte


Dugan


Aquele que dizia matar Van para evitar que ele machucasse alguém, quando ele ainda não tinha feito nada para me machucar ou a Kara – isso me tornaria um justiceiro, e de acordo com essa doutrina pré-surto, ser um justiceiro era tão bom como ser um criminoso. Só que não havia mais lei. Não havia ninguém para pegar homens como Van e trancá-los. Se não fizéssemos isso com nossas próprias mãos, ninguém o faria.

— Eu preciso pensar sobre isso — disse a ela eventualmente, mas o que eu realmente quis dizer foi que eu precisava ganhar coragem.

Antes que Kara pudesse me responder, alguém assobiou para o cachorro, e ela parecia um tanto decepcionada quando ele saltou para o quarto ao lado. Depois que desapareceu, Kara parecia estar pronta para dizer algo, mas uma quietude tão silenciosa caiu sobre todo o prédio que nós dois apertamos os olhos um para o outro desconfiados.

Anteriormente, nós podíamos ouvir Namiko a trabalhar no rato na mesa, e o zumbido constante da televisão e qualquer filme que Van estivesse a assistir. Ambos haviam parado, e agora o único som audível era a minha respiração e a respiração de Kara.

— Onde está o seu machado? — Perguntei a Kara. Eu ia dizer para ela segurar e manter por perto caso algo estranho estivesse a acontecer, mas ela olhou ao redor como se tivesse acabado de perceber que não estava aqui.

— Devo tê-lo deixado lá fora — sussurrou ansiosa, ao apontar para a sala central.

— Pegue sua espingarda então — disse a ela com urgência, e então me levantei. — Fique aqui.

Eu me levantei, tirei meu rifle do ombro e o segurei em minhas mãos para que eu pudesse atirar da posição do quadril a qualquer momento.

Ao caminhar na ponta dos pés, me arrastei até a parede da escrivaninha que criava a barreira entre esse cômodo e o central, e então mal consegui passar a cabeça através da abertura vazia para olhar para a área da cozinha. Namiko era a única pessoa visível aqui, e ela havia se mexido para seu lugar seguro no canto, só que agora parecia tão apavorada que você poderia pensar que alguém tinha apontado uma arma para ela.

— Van saiu? — Mesmo que eu tivesse feito minha pergunta em voz baixa, Namiko vacilou como se isso a tivesse atingido violentamente, e então ela se virou para enterrar seu rosto contra a parede improvisada para o quarto ao lado.

Continuei em frente na direção do quarto ao lado e, quando cheguei lá meti a cabeça na abertura novamente, procurando por Van. Esse quarto estava completamente vazio também. Nem o cachorro estava por perto. Em seguida, fui até a única porta do prédio e descobri por que não conseguia ouvir o cachorro.

Van o havia trancado na escada à prova de som e, por mais alto que continuasse a latir, eu não seria capaz de ouvi-lo. Não sendo capaz de explicar o susto de Namiko se o homem realmente tivesse saído, eu fui desconfiado até aquele pequeno freezer, notando que, enquanto Kara ficava contra a parede distante do prédio, ela havia se arrastado até a borda da sala para que pudesse observar através da abertura.

Quando estendi a mão para o freezer, ouvi Namiko dar um gemido silencioso, como se ela tivesse medo por mim. Meus dedos ficaram tensos sobre a trava de qualquer maneira, e então eu lentamente a levantei. Havia pilhas de carne no congelador, quase todas pequenas porções de ratos cortados ou mesmo inteiros. Continuei a procurar, com a intenção de fazer uma busca minuciosa, e com um suspiro horrorizado recuei quando minha mão entrou em contato com uma coxa muito humana e embrulhada em plástico.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora