Caronte Atraca À Luz Do Dia

87. Capítulo 29 - Como Eu Sou - 1ª parte

Capítulo 29 – Como Eu Sou – 1ª parte

Daisy de Brand New

Como Eu Sou

Echo

Essa foi uma das primeiras noites desde o ataque em que nós não tivemos patrulhas, então, quando olhei para cima do romance que estava a ler à luz do lampião e vi que Genevieve amarrava as próprias botas, a curiosidade tomou conta de mim. — Aonde você está indo?

Ela parou de amarrar um cadarço a fim de olhar para mim, seu olhar se demorou por alguns segundos antes de baixar novamente. Ela estava tão quieta nos últimos dias, desde a noite na torre, quando me abri para ela. Algo estava diferente, entretanto não era algo necessariamente perceptível. Tratava-se mais de algo que eu sentia no modo como ela me olhava, no silêncio com que estava, no fato de ela não ter se irritado comigo uma vez sequer.

Teria aliviado um pouco minha mente se eu pudesse dizer se isso era bom ou não. A paciência recém-descoberta que ela parecia ter era boa; a distância simultânea, contudo, continha algo mais sombrio.

— Vou sair com Kellan — respondeu ela por fim.

Fazia tanto tempo que ela estava quieta que eu tinha retomado a leitura, no entanto, quando ela disse isso eu baixei meu livro. — Achei que você não ia mais flertar com ele — disse sem sucesso, ao mascarar minha decepção.

Ela passou para os cadarços de sua outra bota e puxou as cordas por um segundo antes de afirmar: — Não estou flertando com ele.

Eu estava deitada de costas, mas agora me empurrei nos cotovelos para olhar para ela. — Por que você está se torturando assim?

Enquanto se levantava ela olhou para mim, e antes mesmo que eu proferisse o que pensava, os olhos dela fizeram uma varredura confirmatória do meu corpo. — O que você quer dizer com isso?

— Eu sei que você me quer — eu falei para ela, ao colocar um sorriso presunçoso em meu rosto, mesmo que eu estivesse um pouco rabugenta sobre ela sair com Kellan.

A distância que eu estava a sentir escureceu seus olhos quando eu disse isso, e eles se moveram como se ela quisesse desviar o olhar. Porém, um momento depois ela se recuperou e os lábios dela se curvaram em um sorriso modestamente divertido. Antes de responder ela se aproximou da minha cama, e quando se sentou sobre meus quadris e inesperadamente deslizou uma das mãos pela minha camiseta, eu lutei para não perder o controle.

— É isso que você acha? — Perguntou ela, sedutoramente abaixando a cabeça apenas o suficiente para que seus lábios pudessem se roçar nos meus.

— Isso é o que eu sei — eu afirmei. Quando tentei me levantar o suficiente para beijá-la, ela recuou o bastante para manter aquele roçar tentador, e quando me abaixei com a derrota ela seguiu.

A mão dela deslizou até minha barriga, e toques assim eram tão novos que, quando ela continuava, eu me sentia prender a respiração. — Isso ainda deixa você com ciúmes?

— Sim — eu respondi, em uma tentativa de capturar seus lábios novamente apenas para que ela se afastasse.

Dessa vez ela me empurrou para baixo, deslocando os dedos para que eles fizessem um toque delicado e provocante entre meus seios. — Isso deixa você louca? — Perguntou ela, com a boca a fazer cócegas na minha.

Eu admitiria qualquer coisa se ela continuasse assim. — Insanamente — eu sussurrei.

Ela se afastou ao empurrar meu peito para que eu não me levantasse, no entanto quando falou, os olhos dela não continham nem de longe a quantidade de frieza satisfeita que sua voz continha. — É por isso. — Depois disso, ela saiu de cima de mim e, como ela ainda não tinha luvas, só precisou puxar a jaqueta antes de estar completamente vestida. Quando terminou, no entanto, ela não foi embora e, em vez disso, voltou-se para mim. — Estou apenas brincando, Echo — ela disse baixinho, provavelmente ao ver que, por causa da decepção, eu nem tinha me mexido desde que ela se levantou. Com isso, finalmente me levantei para olhar para ela uma vez mais. — Essa é a única chance que temos de comemorar o aniversário de Garcia — ela explicou. — Ele está fazendo uma fogueira. Você vem?