131. Capítulo 42 - Os Que me São Caros - 3ª parte

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Capítulo 42 – Os que me são caros – 3ª parte


Dugan


As coisas ficaram calmas por um minuto e, por algum motivo, estar parado me afetava. Fiquei tonto, como se a caminhada estivesse mantendo meu sangue a fluir e, agora que paramos, minha circulação também. Eu estiquei o pescoço de um lado para o outro, na esperança de aliviar o fluxo para minha cabeça, e fiz um rápido sinal com o objetivo de que Kara se levantasse.

— Venha, vamos procurar comida.

Ela se levantou da cama, entretanto, assim que ficou de pé, apontou a luz para mim, semicerrando os olhos de forma suspeita. — Você está bem? Você não parece muito bem.

— Só preciso continuar andando — eu respondi, ao virar-me para a saída.

Porém, ela agarrou meu braço. — Você tem dormido muito, no carro. — Ela estudou minha reação, e eu estava cego demais pela luz que ela estava a emitir para ver se ela conseguia ler a verdade em minha expressão. — Você não conseguiu carregar sua mochila, não é? — Suspirei de modo derrotado e balancei a cabeça. Quando ela voltou a falar, pude ouvir sua voz cheia de lágrimas de preocupação. — Por quê? O que há de errado com você?

Eu não queria preocupá-la. Ela já havia passado por tantos traumas, e a última coisa de que precisava era pensar que eu não sobreviveria. Então, eu dei o sorriso mais convincente que pude: — Só estou muito dolorido, vou ficar bem — e fiz sinal para que ela saísse pela porta: — Vamos.

A luz de sua lanterna permaneceu em mim por alguns segundos até que ela finalmente decidiu que eu estava bem. Ela abriu o caminho de volta para a rua, mas quando chegamos lá, tive aquela sensação novamente. Como se alguém ou alguma coisa estivesse a nos observar. Isso me fez tirar o revólver da cintura, segurando-o com firmeza em uma das mãos.

Se um perseguidor viesse até nós porque Kara era pequena e eu estava claramente ferido, então eu queria estar pronto para mirar nossa única bala com perfeição.

Retornamos para a rua principal, certos de que, se houvesse algum tipo de mercearia ou mercado de alimentos, seria nessa rua. Havia algumas casas ao longo do caminho, embora nenhuma delas tivesse algo de valor. Andamos 800 metros, entramos em prédios e casas, subíamos e descíamos escadas, procurando, e isso foi o máximo que consegui fazer. Eu não conseguia mais recuperar o fôlego, e a tontura agora se tratava de um turbilhão constante atrás dos meus olhos. Se nós quiséssemos voltar para a prisão para dormir, eu precisaria fazer uma pausa.

A preocupação era evidente no rosto de Kara quando eu disse que precisávamos parar, e ela me ajudou a descer para a calçada, de modo que eu pudesse me apoiar na lateral de um prédio. Entreguei-lhe o revólver para que ela ficasse de guarda enquanto eu descansava e, assim que ela o pegou, deixou-o cair ao seu lado.

— Que fome — gemeu ela, ao soprar ar pelos lábios e encostando um ombro na parede, desanimada. — Eu mataria por um queijo grelhado.

Inspirei com dificuldade e de forma superficial para poder perguntar: — É essa a sua comida favorita?

— Quero dizer, parece muito bom agora — ela riu. Sua língua passou sobre o corte em seu lábio, mas eu não sabia dizer se era dor ou fome. — Meu prato favorito era macarrão.

— Você gosta dos formatos de desenho animado? — Eu adivinhei, sabedor de que minha própria filha também gostava.

— Tinha que ser macarrão de desenho animado — ela concordou com um sorriso e, embora tenha sido bom vê-la sorrir novamente, isso não ajudou muito a clarear as sombras cansadas sob seus olhos. Ou o hematoma preto e azul em sua bochecha. — Qual foi o seu prato favorito?

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora