153. Capítulo 49 - Ainda Invisível - 3ª parte

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Capítulo 49 – Ainda Invisível – 3ª parte


Echo


Espiei pela esquina e apurei meus ouvidos em busca de vozes antes de entrar. Na ponta dos pés, atravessei até o meio da loja e me ajoelhei silenciosamente ao lado da gaiola. O cão que se encontrava dentro dela levantou a cabeça para me olhar. Talvez ele ainda tenha me associado à maneira como o homem chutou sua gaiola no caminhão, porque imediatamente soltou um rosnado baixo.

— Sh, está tudo bem — eu sussurrei, ao tirar minha mochila dos ombros o mais devagar que pude.

O rosnado do animal se intensificava a cada movimento meu, cada vez fazia meu coração bater um pouco mais forte – eu não sabia o que o pessoal do Jed faria se me encontrasse aqui. Foi só quando tirei o guardanapo de carne da minha bolsa que o cachorro parou. Seu nariz se contraiu, os olhos dourados se fixaram na comida em minhas mãos enquanto eu desembrulhava o guardanapo.

— Por favor, não me morda — implorei baixinho, ao pegar o primeiro pedaço de carne entre o indicador e o polegar.

Com um progresso gradual, estendi o pedaço através dos arames da gaiola, segurando-o para ver se o cão o pegaria de minha mão. Ele ficou a olhar por alguns instantes, com o nariz a se contrair mais ansiosamente a cada segundo que passava. Por fim, começou a avançar o focinho, observando-me com evidente desconfiança, até que seu nariz ficou a apenas alguns centímetros do pedaço. Seu lábio superior se curvou, como se me avisasse para não tentar nada agora que estava perto, e um momento depois ele arrancou a carne dos meus dedos.

A rapidez com que o fez me assustou tanto que caí de costas sobre o traseiro, mas o cão nem sequer roçou um dedo com seus dentes. Nem sequer mastigou. O pedaço de carne desapareceu antes mesmo que eu pudesse piscar.

— Quer outro? — Eu perguntei, ao pegar um segundo pedaço do guardanapo.

Todo o processo se repetiu. Eu estendia a comida, ele se aproximava, contraía o lábio e pegava. Embora eu não tenha ficado tão assustada como da primeira vez, ainda assim estremeci quando a carne desapareceu dos meus dedos em um piscar de olhos.

Fiz isso várias vezes até alimentar o cachorro com todos os pedaços de carne que havia guardado. Em seguida, coloquei o guardanapo vazio no bolso e pendurei minha mochila sobre os ombros. Por curiosidade, estendi as costas da minha mão para a gaiola, querendo ver se o cão me cheiraria mais de perto ou se deixaria que eu o acariciasse. Em vez disso, ele soltou um rosnado ameaçador e eu me afastei.

— Talvez da próxima vez então — respirei fundo, ao passar a mão sobre meu coração acelerado.

Foi tão fácil sair do prédio quanto entrar. Acho que nem mesmo havia alguém lá dentro. Uma vez do lado de fora, não estava preocupada em ser vista, então comecei a descer a rua principal em direção ao refeitório. Foi porque eu estava na estrada principal que passei pelo arsenal e o que vi me deixou com os dentes cerrados por completo. Jed estava se escondendo por ali. Observei-o por tempo suficiente para vê-lo olhar para a placa indicativa do prédio na esquina, examinar as grossas portas de aço e abrir a robusta fechadura com a mão.

— Está procurando alguma coisa? — Indaguei quando o alcancei, ao cruzar automaticamente os braços sobre o peito para que ele não pudesse olhar para a minha tatuagem.

Ele pareceu estremecer ao ser pego, mas quando reconheceu minha voz, virou-se para mim com um sorriso no rosto. — Só estou explorando.

— Não há nada lá dentro para você — disse a ele com amargura. As armas eram um dos meus palpites sobre o que Jed queria de nós, e o fato de ele estar a investigar o arsenal confirmava isso.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora