Caronte Atraca À Luz Do Dia

121. Capítulo 39 - Arrume Suas Coisas - 3ª parte

Capítulo 39 – Arrume Suas Coisas - 3ª parte

Dugan

Corri pela casa o mais rápido que pude até o local de onde parecia ter vindo a voz dela. Ela estava correndo em minha direção pela rua, com três Ferais em seu encalço. Minha mochila e a pá sobressalente caíram no chão, e eu segurei o garfo com firmeza com as duas mãos. Kara se aproximava, mas eu sabia que não teria a força necessária para dar uma facada mortal em qualquer um dos Ferais se fosse até eles. Então, encostei-me à casa, colocando a extremidade da haste contra a parede para esperar, preparado para usar o impulso de um Feral como minha força de esfaqueamento.

— Pegue a pá! — Gritei para Kara, apontando com minha mão livre.

Ela correu e, no momento em que alcançou a ferramenta, largou a lança, agarrou a pá e subiu com um giro, esmagando a pá contra a lateral da cabeça do primeiro Feral. Os outros dois tinham se concentrado em mim quando gritei e, quando o primeiro passou por Kara para vir até mim, ajustei o ângulo do garfo de escavação. O Feral fez todo o trabalho para mim, empalando-se nos dentes da arma quando se lançou contra mim. Mas eu não havia pensado com antecedência suficiente. O segundo estava prestes a me agarrar, e eu não tinha forças para arrancar o garfo do primeiro Feral rápido o suficiente para esfaquear o outro inimigo. No último segundo eu me esquivei para o lado e a criatura se chocou contra a parede da casa com um baque enorme. Ignorei as pontadas de dor em minhas costelas enquanto tentava arrancar minha arma do Feral morto. Puxei repetidamente enquanto meus olhos procuravam por Kara, que estava derrubando a pá em seu oponente pela segunda vez. Finalmente, no momento em que o Feral se virou com um rosnado furioso, minha arma se soltou.

Eu me lancei para a frente ao mesmo tempo em que ele se virou, enfiando os dentes da arma diretamente em seu peito. Mas a força do meu golpe atingiu os músculos das laterais e das minhas costas, causando uma onda de queimação no meu peito.

O esforço e a luta para controlar a dor me fizeram ofegar por ar, mas eu estava recebendo apenas uma fração da quantidade necessária. Foi apenas uma questão de segundos para que eu me sentisse fraco e caísse de joelhos; desabei sobre as mãos e mantive a cabeça baixa para não desmaiar.

— Dugan — murmurou Kara, ajoelhando-se ao meu lado. — Sinto muito. Você está bem?

Acenei com a cabeça, ao apontar uma mão para ela para que soubesse que eu só precisava de um minuto para me recuperar. — Você está — eu sibilei e respirei fundo novamente — bem?

— Sim. — Ela colocou a pá no chão e se sentou, movendo os pés para fora. Ela também estava ofegante, mas era porque tinha corrido muito. — Essas merdas apareceram do nada.

Eu ri, estremecendo com a dor que causou. A tontura logo diminuiu o suficiente para que eu me endireitasse e, um minuto depois, consegui ficar de pé. — Acho que está na hora de sairmos daqui.

— Sem brincadeira — comentou ela sarcasticamente. Pela primeira vez desde que nos reencontramos, seus olhos se voltaram para a arma que estava meio enfiada no cós da minha calça jeans. — Isso é uma arma?

— Encontrei em uma casa. — Eu a tirei e a entreguei para que ela pudesse dar uma olhada. — Mas só tem um projétil. — Era uma .44 também, a primeira vez que eu tinha visto uma arma desse calibre em todo o período desde a epidemia. Eu duvidava que, depois de todos esses anos, fosse possível encontrar muito mais munição para ela.

Ela a devolveu com uma expressão de satisfação e retornamos para o Hummer. Quando chegamos lá, dei as chaves para Kara e deixei que ela pulasse no banco do motorista para ligar o veículo. Ela deu uma volta na ignição, porém, para nossa decepção, o motor não deu um pio. Ela girou a chave novamente e, dessa vez, pareceu que houve um pequeno clique antes de ficar em silêncio uma vez mais.