149. Capítulo 48 - Paz de Espírito - 1ª parte

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Capítulo 48 – Paz de espírito – 1ª parte


Fortune Soul de Blackmill


Paz de espírito


Dugan


Acordei tossindo. Tosses profundas e guturais, tão altas e agudas que fizeram Mal perder o sono. Ela se ergueu na cama do hospital, com o braço a apontar para o arco que havia guardado em uma mesa de cabeceira enquanto chutava as pernas para o lado. Não se tratava da primeira vez que eu acordava tossindo, e ver os instintos dela entrarem em ação com tanto sucesso, mesmo depois das quatro ou cinco vezes anteriores, foi reconhecidamente divertido.

Soltei uma risada com a tosse e vi seus ombros caírem enquanto ela respirava fundo para se acalmar. — Sinto muito — desculpei-me sinceramente e limpei minha garganta.

Mal assentiu e tirou a bandana azul-marinho da cabeça, para passar a mão primeiro pelo cabelo castanho-escuro curto e depois pelos olhos cansados. Kara tinha ficado de vigia e eu fiz o turno anterior para que Mal pudesse dormir um pouco. Era como se agora que ela não estava sozinha, todo o sono que não estava a ter por causa do medo dos Ferais perseguidores a tivesse alcançado. Seus olhos castanhos ficaram mais escuros por causa das olheiras. As linhas dessas olheiras desciam até o topo de suas bochechas sardentas, fazendo com que parecessem afundadas e magras. Ela parecia anos mais velha, fazendo com que eu me sentisse culpado por ter pensado em deixá-la para trás. Enquanto Mal lançava um sorriso de saudação para Kara, ela desamarrou a bandana e a reaplicou em sua cabeça, amarrando-a atrás. Ela prendeu a franja de seu cabelo curto na testa e, se seu cabelo não fosse um pouco cacheado, provavelmente teria empurrado as pontas para seus olhos.

— Você provavelmente deveria tomar alguns desses antibióticos — sugeriu Mal, ao afastar um pedaço especialmente longo da franja. — Por via das dúvidas.

Eu assenti com a cabeça, pegando imediatamente a mochila de remédios para mostrar a ela o quanto eu valorizava seu conselho. Talvez ela só soubesse como me curar porque costumava ser uma espécie de viciada em televisão, e talvez fosse arriscado. Mas ela havia salvado minha vida. Eu não ia me esquecer disso.

— Você está dormindo bem? — Perguntei, ao colocar um comprimido em minha mão e engoli-lo com um pouco de água.

Mal pulou da cama alta e comentou de forma provocante: — Quando não estava morrendo de medo.

— Vingança por ter me furado com uma agulha — eu ri, deitando-me de novo em minha própria cama. Eu podia respirar novamente, mas minhas costelas ainda estavam rachadas e meu peito um pouco dolorido.

Houve um barulho e ouvi Kara cantarolar uma resposta afirmativa a alguma pergunta não dita. Um momento depois, Mal disse, de forma descontraída: — Ei, idiota. — Sabedor de que ela estava falando comigo, levantei a cabeça. Ela segurava um saco de carne que havia tirado da mochila. — Está com fome?

— Você pode me chamar de Dugan, sabia? — Eu disse a ela, fingindo estar ofendido, mas sorri agradecido quando ela me jogou a comida.

Em vez de responder ela simplesmente sorriu, tirando outra sacola da mochila. — Essa é a última. Vou ter que caçar em breve.

— Você usa o arco? — Kara perguntou com a boca cheia, jogando mais um pouco de carne antes mesmo de engolir a última mordida.

— Para caçar? — Mal esclareceu e fechou a parte superior de sua mochila de couro. Kara assentiu com a cabeça. — Sim.

Caronte Atraca À Luz Do DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora