Lendas - A terceira força

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~ 100 anos atrás

— Vossa majestade... — O soldado diz ajoelhando-se.

Em sua frente estava a mulher mais temida entre humanos e demônios. Herói e Rei demônio, ambos reconheciam que não poderiam fazê-la de inimigo, isso causaria a derrota do seu lado na guerra, esse pensamento jamais passaria por suas mentes, pelo contrário, atualmente os dois lados trabalham com todas suas forças para formarem uma aliança com as pixies.

— Como está se encaminhando a guerra?

Apenas sua voz causa tremor no homem em sua frente. Suas asas, diferente do restante de sua raça, é grande demais para que seja escondida, também possui uma beleza hipnotizante, mesmo naquele cômodo escuro brilhava trazendo o pouco de claridade do local. Seu cabelo, rosa claro, poderia passar a sensação de alguém com um estilo mais fofo, mas sua expressão provava o contrário, o sorriso sarcástico em seu rosto combinava mais com sua personalidade.

— Estão em um impasse, os demônios não conseguem mais avançar, sua vanguarda não tem poder suficiente para passar pelas forças do herói, e os humanos não podem contra-atacar, carecem de soldados qualificados e iriam acabar perdendo pelo desgaste de suas tropas. — O soldado detalha perfeitamente a situação próxima a Mooi.

— Parece que está correndo exatamente do jeito que deseja... — Uma voz rouca vinha da direita, de um local que estava particularmente mais escuro que o resto do salão.

Íris nem ao menos vira seu rosto em direção a voz, apenas cruza as pernas antes de falar.

— Entrando na residência de outros dessa forma. — Sorri. — Todos os vampiros carecem de educação como você? Ou isso é especial de seu líder? Valac.

— Como ousa entrar nos aposentos da rainha desta forma? — O soldado levanta-se rapidamente sacando sua espada.

— Silêncio... — Por um segundo dois brilhos aparecem na escuro.

O soldado leva as mãos a garganta, parecia estar sendo sufocado por alguma coisa, mesmo se esforçando não conseguia falar uma única palavra. Percebendo que as palavras daquele ser era a causa ele tenta atacá-lo.

— Ajoelhe-se... — Com passos lentos um homem vai surgindo da escuridão. — Você precisa educar melhor seus servos, ensiná-lo a se comportar melhor com as visitas.

— Levarei em conta sua observação.

Um estalar de dedos da rainha e o soldado cai no chão, quebrando a magia aplicada anteriormente sobre ele.

— Mas não posso deixar alguém entrar em meus domínios e fazer o que acha melhor com meus servos... — Finalmente olha em direção a figura ainda um pouco escura. — Talvez o Rei demônio também deva domesticar melhor seus animais.

Suas asas brilham.

— Perdão, perdão... — diz levantando a mão e finalmente saindo das sombras. — Não vim para lutar, apenas para lhe fazer uma proposta.

— Não acredito que me dará informações úteis, afinal, vocês vampiros saíram correndo do confron... — Como se tivesse percebido algo ela olha rapidamente para o vampiro, um pouco espantada.

Pele branca como todos os vampiros puros. Seus cabelos e olhos completamente vermelhos mostrava que pertencia a família Carmesim. De anos em anos nasciam vampiros com essas características, todos foram para a mesma família e possuem habilidades de combates que superam muito os outros de sua raça.

— Parece que finalmente percebeu, certo? — diz com um sorriso sarcástico. — Os vampiros, a raça que substituiu os lobisomens na hierarquia dentro das raças demoníacas. Não acha estranho nossa raça não estar lutando contra os humanos? Tenho certeza que o Rei demônio tem poder mais do que suficiente para nos obrigar a entrar no combate.

Eles haviam encurralado os humanos. Em trinta anos os vampiros não entraram na guerra, a única resposta seria que eles não estavam preparados para guerra por algum motivo, afinal, com apenas esse grupo poderiam empurrar os humanos mais uma vez.

— Entendo, vocês desgastaram as forças humanas apenas atacando sem suas forças principais, minando o recurso humano deles pela defesa longa — Irís suspira. — Com isso poderão devastar com um único ataque poderoso, caso entrassem desde o começo não teriam o mesmo efeito.

Ela ri.

— Um movimento verdadeiramente interessante se me permite dizer — completa.

— Isso nos leva à outra questão — Valac a encara. — Qual será a posição dos pixie em meio a isso tudo?

O sorriso desaparece do rosto da mulher.

— Mesmo que aos humanos sofram uma grande perda depois desse ataque eles guardarão ressentimento de vocês, afinal, não vieram em sua ajuda durante o combate anterior, mas isso não deve ser um grande problema, pois eles não tem escolha, terão que aceitar a ajuda. — Ele sorri. — Mas os demônios já são outra história, já é tarde demais para entrar do lado deles, não aceitarão uma entrada tardia apenas para colher os prêmios da vitória, além disso o Rei demônio atual pode ser um pouco vingativo, obrigando-os a se aliar aos humanos.

Parece até piada pensar que poucos momentos atrás seu planejamento era derrotar ambos após perderem grande parte de suas forças. O máximo que poderia conseguir era igualar as forças ao se juntar aos humanos, mas os demônios já teriam conquistado uma grande vitória, aumentando ainda mais sua influência e poder. Falar que poderiam se igualar ao se juntar aos humanos era muito presunçoso, eles estariam em desvantagem mesmo após a junção.

Irís se lembra dos avisos que recebeu dos deuses, que deveria se juntar aos humanos para suprimir as forças do rei demônio, mas mesmo assim ignorou esses avisos, tentaram conquistar tudo e no fim acabaram ficando sem nada. Que piada de mau gosto, o ser mais próximo dos deuses ignorou o aviso deles e acabou sendo punida por isso no fim, seria conhecida como a rainha tola pelas próximas eras.

— Mas algo não se encaixa... — diz Irís olhando para o vampiro. — Esse é o plano perfeito, basta executá-lo e terminar de dominar o mundo, mas porque vocês iriam revelar isso para mim? Mesmo que seja apenas um por cento, vocês terão chance de ser derrotados pelo simples fato de revelarem o plano, essa porcentagem seria nula caso não falassem nada.

Só tinha um motivo para o líder dos vampiros vir até ela nesse momento e revelar todo o plano dos demônios.

— Você está trabalhando por baixo dos panos, sem o conhecimento do rei demônio, ou seja, está provavelmente tramando contra seu próprio povo. — Irís olha para o teto enquanto pensa. — Porém quais seriam as vantagens que os vampiros poderiam receber com isso? Já são nobres, mesmo entre todas as raças demoníacas, caso vençam serão os mais beneficiados, claro, atrás dos demônios.

Novamente o olhar dos dois se cruzam após Irís abaixar a cabeça.

— Você mesmo já respondeu a essa pergunta. — Valac dá um passo para frente. — Porque a raça pixie se mantém distante de todas as outras? Isso é simples, formar uma aliança com outra raça significa se submeter a ela ou, caso esteja com vantagem de poder, correr o risco de seus aliados tentarem tomar o poder, basta ver o que aconteceu com os homens-bestas e humanos, uma aliança que se tornou escravidão com o passar do tempo.

Valac chega aos pés dos degraus que levavam ao trono de Irís. Olhando para cima ele foca diretamente em seus olhos.

— Precisamos de uma derrota agora para podermos ganhar mais influência e no futuro passá-los. — Um sorriso audacioso aparece em seu rosto. — Raças demoníacas? Quem disse que isso é um grupo? Vampiros são vampiros, demônios são demônios, não podemos ficar nas sombras deles para sempre.

— Qual o papel das pixies nesse cenário?

Talvez o um por cento dela possa aumentar.

— Mesmo com a ajuda dos vampiros os exércitos do rei demônio não podem derrotar o herói sem o seu líder — diz Valac. — Isso significa uma luta direta entre o rei demônio e o herói, algo inevitável.

— E a única que pode fazer frente com esses dois sou eu. — completa Irís.

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