Parte 104

326 36 18
                                    

— Dulce? – ele gritou da sala, fazendo-a pular de susto. – Eu preciso ir. Você demora?

— Merda. – sussurrou para si mesma, respirou fundo e então foi até a sala. – Não, eu já estou aqui. Escuta, está com muita pressa?

— Um pouco. – olhou-a. – Vai conseguir comer? Porque se você não for, eu vou pegar qualquer coisa no escritório mesmo.

— Tudo bem. – por um instante perdeu-se na imagem dele, ele ficava ainda mais bonito quando fazia a barba. – Não quero te atrasar. Podemos... hm... podemos jantar juntos?

— Sua mãe vai querer falar com você. – lembrou-a outra vez. – Talvez jantar contigo. Ela já queria ter feito isso ontem.

— Pode ficar para amanhã. – aproximou-se dele. – Eu prefiro jantar com você.

— Então tudo bem. – afastou-se e pegou a pasta no sofá. – Eu já vou. Tem um aparelho reserva na gaveta do rack, se precisar de um celular provisório.

— Vou recuperar o meu. – sorriu quando ele colocou o terno. – Christopher?

— Devo chegar perto das oito. – aproximou-se e lhe beijou a testa. – Bom dia.

— Christopher. – puxou-o pela mão.

— Oi? – então a olhou.

— Tudo bem?

— Claro. – tentou soltar-se, mas ela o segurou com firmeza.

— Está tudo bem? – repetiu, fixando o olhar no dele.

Primeiro ficaram em silêncio, ela se esforçava para entendê-lo, e ele ponderava em silêncio se realmente queria tal conversa naquele momento. Aprendera que mentir para ela sempre seria a pior opção, então escolheu a verdade.

— Você acha que está tudo bem? – ele perguntou, colocando a pasta na cadeira.

— Isso foi o que eu te perguntei.  – franziu o cenho.

— Estou tentando falar com você há dois dias. – respirou fundo. – Quero ficar numa boa contigo, mas você parece que não quer, e eu odeio viver assim, portanto, Dulce, não. Não está tudo bem.

— Estava magoada. – confessou. – Estava magoada pela forma que as coisas aconteceram, pelo que você me disse.

— Eu me expressei mal. Acha que eu faria qualquer coisa para te magoar? Na boa, Dulce, de verdade, você acha isso? – encarou-a. – Me responda de verdade.

— Não, claro que não. – mordeu o lábio inferior. – Mas não gostei da forma que você me fez sentir. Como se o sexo fosse um acordo, como se eu tivesse feito algo esperando por um pagamento. – ele arregalou os olhos ao escutá-la. – Escutei tantas vezes que eu não deveria deixar uma cama sem ter feito muito bem a minha parte e que o cliente tinha sempre que se sentir satisfeito. E foi exatamente assim que eu me senti.

— Eu fui muito infeliz no meu jeito de falar, eu sei disso, eu te peço desculpa... eu te peço perdão por isso. – aproximou-se. – Eu quis dizer que não queria ter falhado contigo, eu quis dizer que estava absolutamente louco por você, e morrendo de raiva pelo meu corpo não entender isso. – a mão dela buscou a dele. – Nunca tinha acontecido contigo, eu reagi muito mal, eu não... eu não quero nunca falhar contigo. E gostaria de não ter errado, gostaria de ter reagido melhor e não ter falado nada do que eu disse. Te peço perdão, mas infelizmente é só isso que posso fazer. – entrelaçou os dedos aos dela. – Te pedir perdão e dizer que não vou mais errar da mesma forma. Tento ser o melhor para você, mas infelizmente eu também erro, não consigo agradar sempre. E não quero ser crucificado por isso.

Leblon após às 22hOnde histórias criam vida. Descubra agora