Parte 93

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Christopher a viu chorar, notou as lágrimas que pingavam até a perna dela, mas não teve coragem de se aproximar. Naquele momento, a morena precisava aprender a lidar com aquela situação, ele não poderia salvá-la sempre.

— Sabe, esse era o meu medo quando dizia que eu não queria que você se apaixonasse por mim. – ela quebrou o silêncio. – Era isso. As coisas pelas quais eu te obriguei, te obrigo e ainda vou te obrigar a passar, por mais que eu não queira.

Christopher desencostou-se da pia, puxou a cadeira para si e sentou-se de frente para a noiva. Esperou que ela o encarasse, mas passado os segundos naquele novo silêncio, concluiu que ela não o faria se ele não dissesse nada.

— Foi isso que eu sempre te pedi, desde o momento em que me apaixonei. – ela levantou o rosto para ele. – Deixe de vez essa vida, Dulce. Estou pedindo de novo: saia. Mas saia por completo, esqueça essa gente. Me escute, me escolha.

— Te escolhi há muito tempo. – disse, os olhos inundados de lágrimas.

— Me escolha acima de qualquer um. – pediu e ela rapidamente passou as mãos pelos olhos, impedindo-se de chorar. – No fundo, é isso que eu estou pedindo.

— Por três anos, "aquela gente" foi tudo o que eu tive. – encarou-o. – Por três anos elas foram as únicas pessoas que realmente me conheciam. Eu tive a minha mãe, assim como também tive a Marcela, mas nenhuma delas conheceu a Marie. Elas cuidavam de mim, e eu valorizo, porque sei que não teria aguentado sem elas, mas elas nunca souberam da existência da Marie. – encostou-se na cadeira. – A Vivi sempre soube, a Lis sempre soube, porque precisaram esconder a Cherry e a Meg tanto quanto eu escondi a Marie. Elas eram as únicas pessoas no mundo que sabiam exatamente quem eu era, de manhã e de noite.

— Dulce. – tentou tocá-la, mas ela desviou.

— Você é um sonho, Christopher. Um sonho e uma sorte tão grande... acho que nunca mais na vida eu vou ser tão abençoada quanto eu fui quando parei nesse apartamento e dei de cara com você. – sorriu, os olhos haviam voltado a marejar. – Mas embora eu reconheça e ame muito essa parcela de benção na minha vida, eu não... eu nunca vou esquecer o inferno que eu vivi, tudo o que eu passei. – desviou o olhar. – Porque pra muitos eu fui só um corpo, porque antes de você, eu nunca tinha dado sequer um beijo na boca com o mínimo de carinho que um ser humano merece. E eu só tinha a elas. – olhou para cima e passou novamente a mão embaixo dos olhos, não choraria na frente dele. – Quando meu programa não valia nem cem reais, quando chegava machucada na agência, quando os clientes não cumpriam as regras e me marcavam, quando eu me escondia embaixo de um monte de casacos em pleno verão, porque ninguém podia saber o estado que estava o meu corpo. Quando eu queria desistir de tudo porque minha mãe estava nas últimas e aquele dinheiro simplesmente não dava pra nada... elas sempre estiveram comigo. E assim, por três anos elas foram tudo o que eu tinha, e sei que eu fui tudo o que elas tinham também. – encarou-o outra vez. – Então eu te escolho, eu sempre te escolho, mas não posso ser indiferente.

— Vem cá. – puxou-a para si, mas ela negou. – Dulce. – tentou olhá-la. – Vem. – ela cedeu, congelando ao sentar-se no colo dele. – Estou aqui, você me tem. – ela seguia imóvel. – Eu nunca vou sair daqui. Por favor, confia em mim. – abraçou-a. – Estou aqui, estou sempre aqui. Pode confiar em mim. Por favor.

Abraçou-a com mais força, colocou toda a intensidade que podia; queria ser capaz de parar a dor dela com tal carinho.

Dulce deitou o rosto em seu ombro e fechou os olhos, as lágrimas caíram em silêncio, e o homem soube que ela cedera quando sentiu a pele molhada pelo choro dela.

Não disse nada, não quis pressioná-la, então apenas manteve os braços ao redor da cintura dela. Podia senti-la tão fragilizada quanto o dia em que Antonio chegara perto de tocá-la outra vez; agora não era uma mulher adulta, ele sentia como se segurasse em seus braços a criança que fora ferida e jamais se recuperara do golpe.

Leblon após às 22hOnde histórias criam vida. Descubra agora