Parte 151

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19 de Dezembro de 2014 – Grupo Marino – Quarto 202 – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro, Brasil

Tuca entrou no quarto em silêncio, viu a morena deitada de costas, coberta dos pés à cabeça; por um instante não soube se ela ainda estava acordada.

— Dulce, é a Tuca. – fechou a porta atrás de si. – Posso entrar?

— Não. – disse alto. – Eu não quero ver ninguém.

— Foi uma pergunta retórica, na verdade. – aproximou-se. – Porque não estou te visitando como a sua tia Tuca, mas como a dona deste lugar. E agora, ao que me consta, você é uma paciente.

Dulce virou-se na cama, sentou-se e então mirou a loira, viu-a com o ar sereno e imparcial, diferente do carinho e da pena que Mateus inconscientemente esboçara. Tuca não a julgava, não tinha dó, não pensava ou imaginava nada; ela era apenas neutra.

— E como minha paciente... – encostou-se à cama. – Como você está se sentindo?

Dulce respirou fundo, passou uma das mãos pelo rosto, pareceu pensar por alguns segundos e então assentiu calmamente.

— Eu estou bem. – olhou-a. – Obrigada por perguntar.

— Sabe onde está? – perguntou suavemente. – Tem consciência da situação ao seu redor?

— Sei que estou na sua clínica. Porque o Mateus disse, porque... – mostrou o nome do local escrito no lençol. – Foi fácil de notar.

— Bem, é verdade. – sorriu para ela. – Você se lembra do que passou?

— Mais do que gostaria. – respondeu de imediato.

— Quer falar sobre isso? – perguntou e a morena deu de ombros, respirando pesadamente.

— Que dia é hoje? – franziu o cenho.

— 19 de dezembro. – viu a morena surpreender-se. – Por que o espanto?

— Não tinha noção do tempo. – coçou os olhos. – Foram treze dias, então.

— Que tipo de sentimento isso gera em você? – tentava decifrá-la.

— Me alivia. – confessou. – Eu acho.

— Isso é bom, Dulce. Vejo que consegue distinguir os seus sentimentos.

— Tuca. – puxou o ar. – Eu não sei o que era, mas recebi muitas coisas diretamente na veia durante os primeiros dias. Até então eu tinha consciência de tudo, mas depois que consegui tirar a Viviane de lá, eu apaguei e, honestamente, não sei quanto tempo demorei para voltar. Existe um borrão na minha memória, tenho flashes, mas o que importa é que consumi muita coisa. – encarou-a. – Eu me sinto bem agora, mas quando piorar, eu não sei o que posso fazer. Precisa me travar aqui, não pode me dar nenhuma liberdade e nem acreditar no que eu disser quando estiver sentindo falta disso, porque eu posso inventar qualquer coisa para conseguir o que quero.

— Eu vou tratar você. Não tem que se preocupar com isso, porque você está muito bem amparada agora. – lhe sorriu. – Eu...

— Também não quero ver o Christopher. – pediu. – Eu não quero que ele me veja nesse estado.

— Dulce, eu farei o que me pedir. – assentiu. – Mas nesse momento, a minha opinião, é de que seria importante você contar com a presença dos seus familiares. Ou pelo menos com a presença do Christ...

— O meu pedido é não ver ninguém da minha família. – interrompeu-a. – Quando eu quiser ver alguém, eu vou pedir.

— Eu entendo, querida. – ficou em silêncio por alguns segundos. – Farei o que você me pedir, eu... eu gostaria de sugerir um acompanhamento com o psiquiatra. – a morena desviou o olhar. – Eu imaginei que, talvez, você quisesse desabafar com o Christopher ou com o Mateus, mas parece que você não quer. – Dulce seguia quieta. – E se você não quer falar com eles, eu sugiro que fale com um especialista. Mas você precisa falar, esse é o grande ponto. – tentava encará-la. – Dulce? Dulce, você precisa...

Leblon após às 22hOnde histórias criam vida. Descubra agora