Parte 160

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22 de Dezembro de 2014 – Grupo Marino – Área externa – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro, Brasil

Dulce chegou à enorme área externa e surpreendeu-se ao notar como tudo ali parecia ter tanta vidas! Os pacientes conversavam, alguns riam e até recebiam visitas.

Ela viu duas mulheres gêmeas passarem pela bonita fonte e se encaminharem até a saída. Vê-las tão idênticas a fez pensar nos irmãos, e então recriminou a si mesma por tais pensamentos, não queria sentir falta de mais ninguém.

Seguiu até o banco em frente à fonte, sentou-se ali e pela primeira vez, fechou os olhos e sentiu o ar puro preencher seu corpo. Há quanto tempo não sentia a natureza tão próxima assim!

— Dulce Maria! – parou em frente à ela, completamente surpresa.

— Quem é você? – abriu rapidamente os olhos.

— Flávia B. – apontou a si mesma. – Você é a Dulce Maria, não é? Impossível que não seja, é a única pessoa diferente aqui!

— A garota da porta! – surpresa. – Das minhas cartas!

— Meu Deus, é mesmo você! – sentou-se ao lado dela e a abraçou. – Caramba, você é mesmo real! O Lorenzo tem que ver que você realmente existe!

— Hãn? Que? – afastou-se dela. – O que?

— Contei que éramos amigas. – cruzou as pernas em cima do banco. – Mas ninguém acredita que você existe.

— Nem tudo é perfeito. – deu de ombros. – Eu existo.

— Fico feliz em te conhecer! – sorria abertamente. – Sério! Você é a melhor amiga que já tive aqui!

— Ahn... – sem jeito. – Eu... é bom conhecer você.

— Podemos nos ver todos os dias! – agitada. – Conversar bastante, jogar bola, correr por aqui... sério, tem muita coisa!

— Nós podemos tudo isso. – assentiu rapidamente. – Mas primeiro, você precisa devolver as minhas cartas.

— Hãn? – arregalou os olhos. – Que? Mas e a minha missão?

— Não tem mais missão. – séria. – As coisas terminaram.

— Mas como terminaram se você não o viu? – cruzou os braços. – E não pense que eu vou entregar aquela carta horrorosa que você escreveu!

— Flávia! – reclamou. – É a minha vida! Você não pode decidir nada!

— É o meu livro! – apontou a si mesma. – A minha missão! E a melhor coisa que já fiz aqui dentro.

— Não, não é! – encarou-a. – Eu sou confusa, eu não...

— Dulce Maria. – interrompeu-a. – Minha família é a pior do mundo. Ela é tão perfeita que se torna insuportável. – a morena suspirou ao ouvi-la. – Minhas irmãs são perfeitas, meus pais são perfeitos, ninguém tem defeito algum por fora. Mas a verdade é bem diferente.

— Eu sei como é. – disse de imediato. – A minha família também é assim.

— Meu pai só pensa em trabalho, minha mãe não tem a menor consciência com o próximo ou noção de dinheiro, minha irmã é maluca em cuidar do escritório de trabalho, e a outra ficou um saco depois que foi traída. Mas não importa todos os problemas que tenham, eles ainda fazem a pose de família perfeita. – desabafou. – E eu sou a louca, a patinho feio que resolveu fazer uma faculdade pública, fumou maconha, mal experimentou cocaína e eles ficaram loucos. – Dulce contraiu os lábios. – Odiava a sensação de estar fora do meu corpo, odeio como estou agora, odeio não ter amigos e perder o tempo da minha vida em uma maldita clínica. – encarou-a. – Mas faria tudo de novo, pelo simples fato de que assim eu não precisava fingir perfeição.

Leblon após às 22hOnde histórias criam vida. Descubra agora