Parte 105

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— Eu não te dei chance? – espantou-se.

— Com o seu jeito Buda de ser. – deu de ombros. – Me irritei e acabei não conseguindo falar.

— Então não fui eu que não te dei chance, você que se irritou e mudou o rumo da nossa conversa. – riu dela. – E eu não sou Buda.

— Que seja! – reclamou. – Tá vendo o que você faz? É muito bom com as palavras e isso me deixa perdida.

— Eu não fiz nada! – defendeu-se. – Só expliquei a situação. E eu não te deixo nada perdida.

— Christopher, posso falar? – respirou fundo. – E você cala a boca e não me interrompe para nada?

— Feito. – levantou as mãos e calou-se.

— Ouvi, e que fique claro que foi sem querer, parte da sua conversa com o Poncho, e fiquei tão surpresa que eu não soube como reagir. – passou a mão pelo cabelo e o coque se desfez por completo. – Por duas coisas que realmente me... me chamaram a atenção, me incomodaram, não sei como definir.

— Tudo bem. – franziu levemente o cenho. – Pode me falar o que for. Eu não disse nada ruim para ele e nem expus a nossa vida.

— Eu sei disso, claro. – disse logo e ele pareceu aliviado. – É que você disse duas coisas que eu gravei. Primeiro: que nós dois estávamos desconectados, que eu não te falava nada e que...

— Você não fala. – ele a cortou e ela fez cara feia. – Me desculpe, eu disse que deixaria você falar. Me desculpe.

— Obrigada. – virou-se de lado na cadeira. – Você é meu melhor amigo, você é a pessoa com quem eu conto para tudo e conto tudo. Eu não tenho segredos com você, eu não tenho medo, eu não tenho insegurança, eu não tenho dúvida. Com você eu me sinto em paz, me sinto bem, me sinto por inteiro. O tempo todo. – o viu sorrir. – E se eu não liguei ontem, se eu não contei algo, foi por me animar demais com as meninas, foi por ter vivido um contratempo, foi porque algo saiu do meu controle, mas jamais seria por falta de confiança ou conexão com você. Christopher, isso... isso seria um absurdo!

— Me desculpe, acontece que eu... – abaixou o olhar. – Eu talvez não tenha conseguido enxergar isso. Você sumiu, não deu notícias, não atendeu mais o celular, e a única coisa que eu pensava era: se algo acontecer, como eu a encontro? Eu não tenho nem o número da Marcela, que é a sua melhor amiga, que será a nossa madrinha de casamento. Eu não tenho.

— Minha mãe tem. – franziu o cenho.

Eu não tenho. – repetiu com firmeza. – Entende o que eu quero dizer? Eu sei muito sobre toda a vida que a Marie te fez viver, e eu respeito isso, eu entendo, eu cuido, eu valorizo cada luta sua. – ela ficou séria. – Mas em alguns momentos, em momentos como esse, eu queria saber de você, da minha Dulce.

— Perdão. – contraiu os lábios, visivelmente incomodada. – Eu... eu acho que nunca havia parado para pensar nisso, e acho... eu não quero que se sinta dessa forma. Me desculpe, de verdade, isso não foi intencional.

— Eu sei que não, meu amor, e na maioria das vezes eu nem encrenco sobre isso, mas ontem foi... – deu de ombros. – Eu não pude controlar.

— Não tem que pedir perdão por isso, basta você me dizer, sabe? Me conte o que sente, converse comigo e nós vamos resolver. – deu um leve sorriso. – Estamos resolvendo agora, não é?

— Com certeza. – estendeu a mão para ela. – Conte comigo.

— Eu conto sempre. – então lhe deu a mão.

— Isso era tudo? Esse assunto. – acariciou-lhe a pele.

— Não, eu tenho um segundo ponto. – sorriu de lado. – Prometo que será rápido.

Leblon após às 22hOnde histórias criam vida. Descubra agora