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Alexia Noronha

Aiza completa hoje três meses e como das outras vezes, não comemoramos. Era uma sexta de tarde e dona Laura deu a ideia de levar os meninos para a praça que tinha aqui perto, não queria ir no princípio, mas quando vi meu filho se animar pela primeira vez, concordei em irmos.

— Mãe, eu posso ir jogar bola ali? — ele me pergunta, assinto vendo o mesmo deixar os chinelos e correr até um grupo de meninos que brincavam perto a praia.

Havia comprado um telefone qualquer aqui para manter contato com o pessoal, instalei o novo chip e agora conversava com a Tessia perguntando como estavam as coisas por lá, ela me responde dizendo que não estavam as melhores, responde que aqui tbm não..

— Eu marquei uma consulta para vc com uma ginecologista no postinho aqui perto.. — dona Laura inicia a conversa. — Eu vi que vc jogou aqueles remédios no lixo... — disse.

— Sim, eu não consegui tomar nenhum deles. — fui sincera, — não tenho coragem, nao sou assim... Mesmo as coisas estando difíceis para a gente, está criança não tem culpa de absolutamente nada. — falei a ela que concorda de imediato.

— Você não vai estar sozinha, Alexia. Vc sabe disso.. — acaricia meu ombro, toco em sua mão em um gesto de carinho e logo me levanto.

— Eu vou comprar uma água de côco, vc quer? — pergunto vendo ela responder que sim.

Me aproximo do quiosque perto aonde estávamos e faço meu pedido, enquanto o homem cortava os côcos, sento no banco e pego o celular do bolso, respondendo uma recente mensagem da minha madrinha..

— Esse assalto foi aqui? — o senhor para ao meu lado, me perguntando. O encaro sem entender e ele prossegue; — Claro que não foi aqui, isso é coisa daquele lugar lá, o rio de janeiro! Os bandidos daqui não fazem mais que assaltar bolsas de senhoras indefesas.. — diz e eu encaro a televisão, onde passava um noticiário.

"Na madrugada desta sexta feira bandidos fortemente armando explodiram um caixa eletrônico localizado na zona oeste do rio de janeiro, nas imagens das câmeras podemos vê os criminosos jogarem dinheiro para o alto enquanto esbanjam armas de calibre grosso. Muros próximos ao local do ocorrido foram pixados com algumas mensagens que entendemos como uma homenagem a uma das recentes mortes de um dos líderes do tráfico que comondava o complexo da penha, localizada na zona norte do rio. As escritas se destacam com a ciglas da facção cv, comando vermelho e em seguida "vida longa ao rei"

— Aqui.. — o moço me entrega os côcos.

— Obrigado. — Dou o dinheiro a ele saindo dali.

Volto para onde estávamos e olho para o Breno brincando, sorrindo... A dias que não o via assim, preferia mil vezes o meu filho sendo motivo dos meus cabelos brancos do que quieto e pensativo como estava desde a nossa chegada.

— Vamos? Tá ficando um pouco tarde já.. — falo a dona Laura que concorda, pego a Aiza fazendo sinal para que o Breno viesse.

— A gente já vai? — pergunta, assinto. — Ah cara, tá bom.. — fala pegando os chinelos do chão.

— Amanhã eu volto aqui e vc fica mais tempo, tá bom? — falo a ele que concorda.

A casa não ficava muito longe daqui então só andamos um pouquinho e viramos a rua, quando cheguei tirei a roupa da Aiza e preparei as coisas do seu banho.

— mãe, vou dormir com a senhora hoje. Aquele quarto é muito grande e eu... Tô com medo. — ele confessa.

— Tá certo, amor.. — falo indo até o banheiro, dou um banho rápido na Aiza  e a deixo apenas de fralda, o calor daqui era dms e tempos assim era fácil de aparecer uns carocinhos nela..

Idas e Vindas (M)Onde histórias criam vida. Descubra agora