Capítulo trezentos e sessenta e sete.

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Second season:three hundred and sixty-seven
Eu falei com a minha mãe hoje ★
{Tacoma, Washington}
<Victor Jones narrando>

O entardecer pintava o céu lá fora com tons de laranja e roxo, enquanto o frio se infiltrava pelas frestas da casa, tornando o aquecedor essencial. Eu estava jogado no sofá, distraído com o celular, até ouvir passos apressados descendo as escadas. Levantei o olhar e vi Lara, minha irmã, com uma expressão animada, quase saltitando.

— Eu vou sair! — anunciou, como uma adolescente empolgada para a primeira festa.

— Uhum. E daí? — Respondi, sem tirar os olhos do celular.

— Depois eu te conto, não me espere acordado. Tchau! — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela atravessou a sala e saiu batendo a porta.

Fiquei olhando para a porta, confuso, mas decidi não me preocupar. Lara saiu de casa aos quinze anos e, desde então, aprendeu a se virar sozinha. Mesmo assim, não conseguia evitar a preocupação.

De volta ao celular, minha mente começou a divagar sobre Seattle. Não era só mais uma investigação; era o Caso 39, o maior que já peguei, envolvendo a máfia mais perigosa do país e, de algum jeito, minha irmã. Para piorar, eu teria que trabalhar com a Babi de novo. Tudo nela era um desafio – e eu nem sabia se isso era bom ou ruim.

Uma batida na porta me tirou dos pensamentos. Achei que Lara tinha esquecido algo, mas, ao abrir, me deparei com Bárbara. Ela estava séria, com o rosto indecifrável.

— Você está sozinho? — perguntou diretamente.

— Minha irmã acabou de sair. — Respondi, intrigado.

Sem dizer mais nada, Babi me abraçou. Senti seu corpo tremer levemente, e logo percebi o som abafado de um choro. Fiquei imóvel por um momento, surpreso. Babi não era de chorar; na verdade, eu só a tinha visto chorar uma única vez, em Seattle, e foi um grande choque pra mim.

Deixei o choque de lado e a abracei de volta, fechando a porta com o pé. Ela parecia tão frágil naquele momento que meu peito apertou. Não disse nada, apenas esperei que ela se acalmasse. Seu abraço era firme, quase desesperado, mas, para mim, era estranhamente reconfortante. Com os braços ao redor da sua cintura, e meu rosto enterrado no seu pescoço, o perfume doce de cereja que ela usava parecia me envolver.

Quando finalmente se afastou, Babi limpou as lágrimas com a manga do suéter preto, sentando-se no sofá. Sentei ao lado dela, sem saber muito bem o que fazer.

— O que aconteceu? — perguntei com cuidado, tentando não pressioná-la.

Ela deu de ombros, ainda olhando fixamente para frente.

— Quer água? — Ofereci, enquanto minha mão afagava suas costas em um gesto instintivo.

Ela balançou a cabeça negativamente, o olhar ainda perdido. Então, após alguns segundos de silêncio, finalmente falou:

— Eu falei com a minha mãe hoje.

Minha garganta apertou ao ouvir isso. A única vez que a vi chorar foi exatamente por causa desse assunto. Mesmo sendo tão forte e fechada, dava para perceber de longe como o tema "mãe" a afetava. Saber que ela confiava em mim para se abrir assim aquecia meu coração, mas também me enchia de revolta.

— Por quê? — perguntei baixinho.

— Carol disse que talvez eu pudesse tentar me aproximar do Bak ou do Thur. Eles não têm culpa de nada, sabe? Concordei, porque eles são ótimos. Mas, no meio disso, a mãe deles apareceu. Minha mãe...

— Ah. Vocês discutiram?

— Ela ouviu falar das minhas crises de raiva. Não sei como começou, mas ela me disse: “Você é doente! É por isso que ninguém se importa com você. Se não tivesse esse problema, não seria uma fracassada que não sabe socializar.” — A voz dela tremeu, e eu soube que estava se segurando para não desabar. — Sei que não devia ligar para o que ela disse. Ela nem me conhece. Mas não sei... Não sei o que sinto. O Bak ainda tentou me defender, mas isso só me deixou mais irritada. Me forcei a parecer forte, mas não consigo fingir que isso não me afeta.

Meu estômago se revirou de raiva.

— É normal se sentir magoada. Mesmo ela sendo uma filha da puta, ela ainda te colocou no mundo. — Minhas palavras saíram mais duras do que eu pretendia, mas era exatamente como eu me sentia. A Wanessa tinha destruído qualquer chance de ser uma boa mãe, tanto para Babi quanto para Bak.

— Quando fui para a Flórida, estava tão bem que não tive nenhuma crise o mês todo. Hoje, depois disso, tive de novo. — Ela olhou para as mãos, que estavam visivelmente machucadas. As palmas vermelhas e os punhos com marcas roxas denunciavam o quanto ela havia descontado sua raiva.

Odiava vê-la assim.

Peguei suas mãos com cuidado e fechei-as entre as minhas. Beijei seus dedos machucados, sem pressa, e a encarei com sinceridade.

— Você não tem culpa das suas crises de raiva. E não tem problema se expressar, nem se magoar. Estou aqui com você, sempre.

Babi deu um sorriso fraco, mas verdadeiro. Puxei-a para um abraço novamente, e ela descansou a cabeça no meu peito enquanto eu afagava suas costas. Depositei um beijo suave no topo de sua cabeça, deixando o silêncio falar por nós.

Se depender de mim, ela nunca vai enfrentar isso sozinha.

case thirty nine:season twoOnde histórias criam vida. Descubra agora