Capítulo 2
Dante até encarava as palavras escritas no caderno, deveria ler e copiar todas elas, assim como o médico lhe instruíra, mas ainda que os olhos verdes não se desprendessem do papel, seus pensamentos o arrastavam para longe dali.
Ora pensava no irmão, ora pensava em Dulce e, na maioria das vezes, os últimos cinco anos simplesmente lhe dominavam a mente; ele acostumara-se a viver apegado à memória da história com a noiva.
— Oi. – parou ao lado da loira, abaixando o rosto para encará-la sentada na grama.
— Oi...? – franziu o cenho e levantou o rosto para mirá-lo.
— Estava te ouvindo tocar... – apontou o violão no colo dela.
— Tentando tocar. – corrigiu-o com um leve sorriso nos lábios. – Fico passando o tempo durante o intervalo das aulas.
— Está na aula de música? – apontou o prédio ao lado. – Que vai começar às 9h30?
— É... – assentiu.
— Acho que eu também. – ele disse e ela franziu o cenho. – Digo... hm, se importa se eu me sentar?
— Não. – apontou a grama. – Por favor.
— Obrigado. Eu... – sentou-se ao lado dela e tirou a mochila das costas. – Eu recebi essa grade de aulas e... – pegou o papel. – Sou intercambista. Deveria ter dito isso logo, né? Eu sou intercambista e por isso cheguei hoje e não... digo... não cheguei antes... no início do curso, eu quis dizer. Enfim, eu só...
— Então você é intercambista. – o sorriso saiu quase debochado. – E achou que a melhor forma era pedir ajuda para outra aluna?
— Bem, eu não...
— De onde você vem? – pousou a mirada sobre os olhos verdes dele.
— Alemanha. – viu-a assentir com leveza. – Munique.
— Em Munique as faculdades não têm secretarias? – soltou um leve riso.
— Há muita coisa computadorizada, devo dizer. – segurou-se para não rir ao ver que a deixara sem graça. – Mas ainda temos secretarias com seres humanos.
— Por aqui também. – jogou levemente os ombros.
— É que eu pensei que poderia escolher entre a secretaria com secretárias que falam rápido demais para mim... – ela então riu. – Poderia escolher o grupo que está fumando ali. – apontou os jovens. – Mas acho que a maconha pode atrapalhar um pouco o senso de direção deles, não é? – a loira gargalhou. – Tinha também o casal ali. – apontou-os. – Mas a julgar pelo fato de que estão quase se comendo às nove da manhã... sei lá, acho que não dariam muita bola para mim. Depois tem os bad boys ali... – apontou apenas com o olhar. – Mas não sou muito bom de briga, melhor não me arriscar. E, claro, tem as princesas da faculdade. – mirou o grupo de meninas. – Que provavelmente namoram o grupo de bad boys e, de novo, eu não sou bom de briga. E então, você...
— E eu...? – arqueou levemente a sobrancelha.
— Estava lutando com o violão sozinha. – sorriu lateral. – Pensei que poderia ser uma boa companhia.
— Estava tentando tocar. – frisou.
— E o que estava tentando tocar? – levou os olhos até as folhas na grama.
— Gosto de músicas velhas. – passou a cifra para ele. – Conhece Selena?
— Quem não conhece Selena? – piscou e mirou a folha. – El chico del apartamento 512.
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Jogada Paralela
RomanceEle queria o senado. Ela traçou o caminho. Ela buscava justiça. Ele entregou por inteiro. Atraídos como imã, foram cegados pela jogada perfeita. Desencontraram-se. Fizeram-se independentes. O jogo não para. O tempo corre. Arrisque uma Jogada Parale...