Capítulo 13, parte II

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Fernando terminou o bilhete perdido em lágrimas, secando inutilmente o rosto e esforçando-se para não molhar o papel. Mirou a filha, e a morena encostou-se no sofá, encolhendo as pernas ao abraçar os joelhos e deixar o rosto escondido ali.

― Dulce... – ele tentou tocá-la, mas ela desviou os ombros e o som do choro tornou-se alto.

Ele acompanhou como ela apertava os próprios os braços, como o peito subia e descia em descompasso pelo choro, jamais pensara que faria a filha chorar de tal forma.

― Dulce... – tentou tocá-la outra vez, mas a menina negava sem levantar o rosto.

Fernando deixou o bilhete sobre a pasta, levantou-se e foi até a filha, subindo no sofá para poder abraçá-la. Sentiu-a reagir negativamente, mas não a soltou, apertou-a ainda mais forte em seus braços, como se pudesse dizer, com aquele gesto, que deixá-la não seria jamais opção para ele.

Dulce cedeu, deixou o corpo relaxar-se no abraço do pai, e permitiu que ele lhe desse o carinho que desejava. Fernando aninhou a morena em seu colo, beijou-lhe carinhosamente a testa e afagou os cabelos ainda úmidos da filha.

― Te amo, minha menina. – sussurrou. – E faria tudo de novo por você. Reviveria cada dia e te entregaria a minha vida. Sei que não pude te dar tudo, mas agradeço a Deus todos os dias por Ele ter feito a Anna tomar consciência uma única vez na vida. – segurou o rosto dela. – Você é o meu mundo, girafinha. Não abro mão disso nunca.

― Te amo, pai. – fechou os olhos. – Desculpe.

― Sem desculpas, porque tudo o que você fez, desde que chegou à minha vida, foi me dar orgulho e felicidade. Todo o tempo todo. – sincero. – Sempre. Em tudo. – secou as lágrimas dela. – Eu é que te devo desculpas por não ter sido transparente.

― Talvez eu não seja a sua filha. – olhou-o. – Só diga que isso não mudará.

― Existem duas coisas que provam que você é a minha filha. A primeira delas, aconteceu na sua primeira noite em casa. – passou as pequenas mãos pelo rosto dela. – Eu estava assustado, tive que correr para achar um leite para te dar, e à noite, te coloquei para dormir na cama comigo. Não sabia colocar a fralda direito, então você acordou toda suja de madrugada. – riu baixo ao falar. – E chorava muito. Eu te pedi perdão e limpei você. – encarou-a. – E enquanto eu fazia isso, enquanto eu trocava você e te pedia desculpa pelo meu erro, você parou de chorar e me olhou. Eu juro que me olhou! Como faz agora. E eu disse que nós aprenderíamos como fazer aquilo, e sabe o que você fez? – ela negou. – Você sorriu. Tão pequena, tão inocente, você sorriu para mim. – ela terminou sorrindo ao ouvi-lo. – Exatamente desse jeitinho. – pincelou o dedo no nariz dela. – E ali eu decidi que você sempre seria a minha filha, e ninguém jamais provaria o contrário. – beijou a testa dela. – Jamais, meu amor.

― E a segunda prova? – perguntou baixo.

― A segunda prova quem me deu foi seu tio Locho. – estalou a língua. – Me disse que eu deveria ter feito o exame de DNA. Eu nunca quis. – deu de ombros. – Então ele fez sem a minha permissão.

― Ele fez? – arregalou os olhos. – O que? Você... você viu esse teste?

― Eu vi. – esticou a mão até a pasta. – E guardei comigo.

― Não. – afastou-se dele. – Não, eu não quero ver. – ele pegou o teste. – Eu não quero saber, eu não... – ele pegou o envelope. – Não! – ele parou. – Não quero... eu posso não ser e não quero saber disso. – os olhos voltaram a marejar. – Eu quero ser sua filha, eu não quero outra resposta. Eu fico com a primeira prova. Fim.

― Dulce... – ele mirou o papel.

― Por favor, não. – fungou. – Por favor.

― Probabilidade de paternidade: 99, 999999%. – manteve os olhos firmes no papel. – Conclui-se que o senhor Fernando José Gutierrez Espinosa é o pai biológico de Dulce María Espinosa Saviñon. Declaro que o laudo acima é expressão de verdade. – levantou o rosto e finalmente mirou a filha. – Cidade do México, 28 de dezembro de 1988. – viu-a levar as mãos ao próprio rosto para esconder o choro. – Você sempre foi a minha filha! – puxou-a para um forte abraço, acolhendo-a em seu peito. – Sempre, girafinha.

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