Capítulo 38, parte II

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— Olá, minha filha. – Anna sorriu.

— Vou aqui. – Dulce sentou-se no banco detrás. – E toque para o hospital, eu tive que inventar uma dor mirabolante para conseguir sair.

— E você iria sozinha para o hospital? – olhou-a pelo retrovisor. – Com que tipo de gente você estava?

— Não critique a minha família! Eu menti como nunca! E agora Anahí quer que eu mande a minha localização para ela. – bufou. – Eu tenho que estar lá para fazer isso, né?

— Não. – respondeu de maneira simples e apertou a central multimidia do carro.

Dulce nada disse, ficou em silêncio enquanto a mulher iniciava uma ligação com o homem que, ela deduziu rapidamente, também falava russo.

Alguns minutos depois, e sem imaginar o que a loira tanto falava, Dulce finalmente a viu encerrar a ligação.

— Pronto, seu celular irá para o hospital. – avisou-a. – E Anahí receberá a localização adequadamente.

— Quem era ao telefone? – franziu o cenho.

— Nosso funcionário. – sorriu pelo retrovisor. – Digo, por enquanto é meu, mas logo será nosso, portanto, já pode ir se acostumando.

— Minha senhora, é o seguinte. – sentou-se na ponta do banco. – Vou ser bem clara: eu não quero ter contato com você, eu não sou a sua filha e eu não tenho interesse nem mesmo em te ver! – frisou. – E o que tudo isso significa? Que você não pode me ligar quando te der na telha! – reclamou. – Anahí estava em casa, meu pai estava em casa, eu tinha um compromisso inadiável!

— Inadiável? – deu de ombros. – Mas você está aqui.

— Porque o meu maior compromisso é manter o meu pai e a minha família em segurança, e já percebi que só consigo isso bem longe de você! – grunhiu.

— Aí é que você se engana, meu amor. – sorriu de lado. – A sua proteção está comigo, não contra mim.

— Eu não quero nada de você. – subiu os olhos para mirá-la pelo retrovisor. – Aliás, eu quero é distância de você!

—Me desculpe, Dulce, mas as coisas, por enquanto, não podem ser exatamente do jeito que você deseja. – sorriu conformada. – Você logo se adaptará ao esquema.

— Urgh! – passou as mãos pelo rosto e só então percebeu que estava livre para observar todo o caminho. – Não vai me vendar hoje?

— Não vamos para casa. – respondeu tranquila.

— Não? E para onde vamos? – mirou a mulher, que seguia dirigindo se preocupação. – Anna, para onde vamos? Será que pode me responder?

— Para o escritório. – respondeu pacientemente e viu a mirada confusa da morena. – Por esse olhar, parece que você acha que eu não trabalho.

— Me desculpe se até ontem você estava inválida numa cadeira e agora transita pela cidade como se fosse uma pessoa qualquer! – e não escondeu o sarcasmo ao dizer.

— Às vezes é preciso sobreviver. – soou conformada. – Até que se possa voltar a viver de novo.

— Hm. – Dulce girou os olhos, já concluíra que odiava os enigmas da mãe. – Onde fica o seu escritório?

— Na cidade. – piscou. – Chegaremos logo.

— Na cidade? – franziu o cenho. – Tipo... cidade mesmo? Como gente normal?

— Falando assim, parece que eu sou anormal. – riu baixo. – Ou não sou gente.

— Anormal ainda pode ser verdade. – deu de ombros e a loira riu, parecendo sequer se importar com a ofensa. – Pensei que tivesse um escritório escondido, fora da cidade, no subsolo de algum lugar.

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